Apologética

Vertentes cristãs que propiciam a intolerância em um Estado Laico

O “Estado”, é uma nação sob o comando de um governo instituído. Sendo assim, o “Estado” é laico quando o poder político estabelecido não se opõe e nem apoia nenhuma religião. Estado e religião não se misturam, isto é, as decisões governamentais não dependem de interesses religiosos.

No Brasil o Estado é laico desde 1890. É um Estado, por assim dizer, tolerante, e, portanto, contra qualquer tipo de intolerância religiosa.

O Cristianismo bíblico é uma religião que busca tirar adeptos de outras religiões através da persuasão. É da natureza do Cristianismo esse ato proselitista. Essa característica inerente ao Cristianismo, dá-se mais ou menos agressivamente; com maior ou menor insistência. Seja como for, não deve jamais revestir-se de atos de intolerância.

João Batista, preparando o caminho do Senhor (Is.40:3), pregava no deserto o arrependimento (Mt.3:1-2).

Quando Jesus Cristo ouviu que João Batista estava preso, começou também a pregar o arrependimento (Mt.4:17).

Depois de ressurreto, pouco antes de subir aos céus, Jesus abriu o entendimento dos discípulos para compreenderem as Escrituras quanto ao escopo de Seu ministério. Disse a eles que o resumo era que “em seu nome se pregasse o Evangelho de arrependimento para remissão de pecados” (Lc.24:47).

A pregação de arrependimento exige a denúncia de pecado, para que o pecador saiba do que tem que se arrepender. É uma obviedade.

Dias depois, Pedro, que agora entendia as Escrituras, obedeceu a ordem do Senhor Jesus e fez a pregação legítima do Evangelho, denunciando o pecado. Ao ouvirem, os pecadores, possuídos de convicção de pecado, com aquela necessária “tristeza segundo Deus” (II Co.7:10), foram orientados por Pedro: “Arrependam-se” (Atos 2:14-37).

Não existe nas páginas do Novo Testamento um registro sequer de que os apóstolos tenham feito pregação do Evangelho seguida de um “apelo”, nem jamais encontramos o famoso convite: “aceite a Jesus”.

Quando Jesus Cristo afirma que Ele é “o caminho, a verdade e a vida”, e que ninguém irá ao Pai a não ser através dEle (Jo.14:6), está dizendo que todas as outras religiões estão erradas, e que seus seguidores irão para perdição eterna. Essa verdade, para alguns, soa como intolerância religiosa. Como os seguidores de Jesus Cristo (cristãos) são proselitistas em cumprimento de uma ordem dada por seu Mestre (Mc 16:15), e ai deles se não cumprirem essa obrigação (I Co.9:16), a perseguição e o sofrimento são presumidos (II Tim.2:24-25 c/c II Tim.4:5).

Todo cristão legítimo (bíblico) sabe que a soberania divina quis que o meio de graça para a salvação fosse a pregação do Evangelho (I Co.1:21 c)c Rm.10:14). Há, entretanto, dois entendimentos distintos que intensificam ou amenizam as denúncias de Intolerância religiosa praticada por cristãos.

O primeiro grupo, entende que a pregação do Evangelho deve ser feita, denunciando o pecado, dizendo que Jesus é o único caminho. Os pecadores, que nessa ótica, já são dantemão “ovelhas do Senhor” (Jo.10:27), darão ouvidos à pregação porque são trazidas pelo próprio Deus a Jesus (Jo.6:44), e é só por elas que Jesus deu a Sua vida (Jo.10:15). Como já estavam preordenadas (escolhidas) para a vida eterna (Atos 13:48), entenderão a mensagem porque já são de Deus (Jo.8:47), enquanto que aqueles que não deram ouvidos, não o fizeram porque nunca foram de Deus de Deus (Jo.8:43).

Nessa perspectiva, não há “apelo”, a adesão (conversão) segue um curso natural, e as tensões são reduzidas quanto às denúncias de Intolerância religiosa.

O segundo grupo, entende que a pregação do Evangelho deve ser feita, sem que necessariamente o pregador precise denunciar o pecado, mas que faça o convite para o pecador “aceite a Jesus como seu Salvador” (Rm.10:13 c/c Mt.11:28). Aqui não existem pecadores preordenados para a vida eterna. As adesões (conversões) são assentimentos ao nome de Jesus, e devem ser buscadas por meio de pregações que atraiam o maior número de adeptos, sendo válidos todos os meios tidos como legítimos, sempre com o solene apelo no final. A movimentação é intensificada, e os esforços são dirigidos a reunir nos espaços religiosos (igrejas) o maior número possível de pessoas. As preocupações humanistas se sobrepõem às de natureza transcendental, e nessa perspectiva, as incompreensões quanto à Intolerância religiosa ficam mais explícitas, intensificando as denúncias.

Há, portanto, dois tipos de pregação do Evangelho no assim chamado protestantismo cristão. Ambas produzirão algum grau de sofrimento e perseguições.

Contudo, uma está focada simplesmente no anúncio do Evangelho, e a outra na conquista de pessoas.

Na simples semeadura do Evangelho, considerando a priori que só as ovelhas ouvirão, há uma constatação implícita do chamado Estado laico, sendo, portanto, pacífica as relações com os diferentes.

Na busca por pessoas que aceitem a Jesus, o Estado laico não é pressuposto, porque grande esforço é feito para o convencimento dos diferentes, para que, ao ouvirem os apelos, passem a ser ovelhas do Senhor.

A conclusão é que ambos os grupos operam dentro do Cristianismo a partir da formação que receberam. Há, de ambos os lados, uma certa acomodação acrítica dos pressupostos internalizados.        Quando fazemos o exercício salutar de nos posicionarmos do lado de fora, olhando para os dois grupos à luz da revelação escrita, é possível concluirmos qual está conectado com as verdades eternas.

Presbítero Ivo Matias Damas

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