Os mandamentos de amor ao próximo e de renúncia à vingança se tornarão cada vez mais urgentes na luta sagrada que se aproxima e, na verdade, na qual já estamos, há anos, engajados, pois de um lado está o amor e, do outro, o ódio. É obrigação de toda alma cristã preparar-se para esse combate. Vem chegando o tempo em que aquele que confessar o nome do Deus vivo se tornará, por causa dessa confissão, não apenas objeto de ódio e de fúria do mundo – o que já está acontecendo -, mas será também excluído da assim chamada “sociedade humana; será caçado de um lugar para o outro, maltratado, agredido fisicamente e, por vezes, assassinado. – Vem chegando o tempo de perseguição generalizada aos cristãos. E é, na verdade, aí que reside o sentido último de todos os movimentos e lutas de nossos dias. Os adversários buscam a destruição de nossa Igreja e de nossa fá cristã porque não conseguem conviver conosco, porque veem em cada palavra que dizemos, em cada ato que praticamos, mesmo quando não dirigido contra eles, uma condenação de suas palavras e atos. E nisso não estamos errados. Suspeitam também que somos indiferentes as suas condenações; na verdade, têm de admitir que a condenação deles contra nós é completamente ineficaz. Não discutimos nem brigamos com eles, embora preferissem que o fizéssemos e, dessa maneira, descêssemos até seu nível. Como travar essa batalha? Logo chegará o tempo que teremos de orar não mais como indivíduos isoladamente, mas como congregação articulada, como Igreja, em que juntos elevaremos as mãos em oração; ainda que em pequenos grupos, e no meio de milhares e milhares de apóstatas, louvaremos e confessaremos ao Senhor que foi crucificado e subiu aos céus e que um dia voltará. E que oração, que confissão, que hino de louvor será? Será justamente a oração do amor mais terno por esses que se perderam, que nos rodeiam e nos miram com olhares cheios de ódio e com as mãos já levantadas para desferir o golpe mortal; será a oração pela paz dessas almas errantes, desoladas, confusas; a oração lhes penetrará fundo na alma e lhes despedaçará o coração mais dolorosamente que qualquer coisa que eles, com todo ódio contra nosso coração, pudessem fazer conosco. Sim, a Igreja que de fato espera seu Senhor, que reconhece os sinais da época em que será necessário tomar decisões, deverá, com toda força de sua alma, com toda força de sua vida sagrada, lançar-se na oração do amor.
A.F.C. Vilmar, 1880
BONHOEFFER Dietrich, Discipulado. pág 116-117. Editora Mundo Cristão.