Sem categoria

SOMENTE PELA ILUMINAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO SE PODE CONHECER DEUS E AS COISAS DE DEUS

Se houvéssemos de estar persuadidos, o que deve estar fora de controvérsia, de que nossa natureza carece de tudo quanto o Pai celestial confere a seus eleitos mediante o Espírito de regeneração, não haveria aqui nenhuma razão para hesitação. Ora, o povo fiel assim fala no Profeta: “Pois que em ti está a fonte da vida” e “em tua luz vemos a luz” [Sl 36.9]. O Apóstolo testifica o mesmo, quando diz que ninguém pode falar: “Jesus é o Senhor”, a não ser no Espírito Santo [1Co 12.3]. E João Batista, vendo a estupefação de seus discípulos, exclama que ninguém pode apreender absolutamente nada, a não ser que lhe seja dado de cima [Jo 3.27]. Que esse dom, porém, é por ele entendido quanto a uma iluminação especial, não de um dote comum da natureza, evidencia-se disto: que se queixa de nada haver alcançado com tantas palavras com que havia Cristo recomendado a seus discípulos. “Vejo”, diz ele, “que, a não ser que o Senhor tenha dado entendimento mediante seu Espírito, minhas palavras nada são para imbuírem as mentes dos homens a respeito das coisas divinas.”

Ora, enquanto ao povo censura sua facilidade de esquecer, contudo ao mesmo tempo nota até mesmo o próprio Moisés que ninguém pode de outra maneira fazer-se sábio nos mistérios de Deus, a não ser pela benevolência dele próprio. Diz ele: “Teus olhos viram aqueles sinais e portentos ingentes, e o Senhor não te deu coração para entender, nem ouvidos para ouvir, nem olhos para ver” [Dt 29.3,4]. Que mais precisaria dizer, se no que tange à consideração das obras de Deus, nos chamou de broncos? Donde, como expressão de graça singular, o Senhor promete, por intermédio do Profeta [Jr 24.7], haver de dar aos israelitas um coração para que seja por eles conhecido, indicando, sem dúvida, que, espiritualmente, a mente do homem só sabe quando é por ele iluminada.

Cristo, por sua palavra, também confirmou isto claramente, quando dizia que ninguém podia vir a ele, a não ser aquele a quem fosse dado por seu Pai [Jo 6.44]. E então? Porventura não é ele a imagem viva do Pai [Cl 1.15], na qual se nos exprime todo o esplendor de sua glória? [Hb 1.3]. Portanto, ele não pôde mostrar de forma mais clara qual é nossa capacidade para conhecermos Deus, do que quando nega que tenhamos olhos para contemplar-lhe a imagem mesmo onde tão claramente ela se exibe. E então? Porventura Cristo não desceu à terra para que revelasse aos homens a vontade do Pai? [Jo 1.18]. Ainda, porventura não desempenhou ele fielmente sua missão? Evidentemente, assim é. Nada, porém, se alcança com sua pregação, a não ser que o Espírito, como um Mestre interior, mostre o caminho aos corações. Portanto, a ele não vêm senão aqueles que ouviram do Pai e por ele foram ensinados.

Qual é esta forma de aprender e de ouvir? Certamente onde, por seu admirável e singular poder, o Espírito forma ouvidos para ouvir e mentes para entender. E para que isso não pareça novidade, Cristo cita a profecia de Isaías, no qual, enquanto promete a renovação da Igreja, ensina que haverão de ser doutrinados por Deus aqueles que se haverão de congregar para a salvação [Is 45.13; Jo 6.45]. Se nesta passagem Deus prediz algo peculiar acerca de seus eleitos, é evidente que não está falando dessa modalidade de ensino que é comum até mesmo aos ímpios e profanos.

Resta, portanto, que entendamos que o acesso ao reino de Deus a ninguém se abre senão àquele a quem, em virtude de sua iluminação, o Espírito Santo tenha feito nova a mente. Na verdade, Paulo falou mais claramente que todos, dizendo que, tendo entrado expressamente nesta discussão, depois que condenou de estultície e frivolidade a toda a sabedoria dos homens, e até a reduziu inteiramente a nada, finalmente assim conclui: “O homem natural não pode compreender as coisas que são do Espírito de Deus. Elas lhe são loucura. Nem pode entendê-las, porquanto se discernem espiritualmente” [1Co 2.14]. A quem chama de homem natural? Evidentemente, àquele que se apoia na luz da natureza. Digo que esse nada entende dos mistérios espirituais de Deus.

Por que assim? Porventura porque por indolência os negligencia? Pelo contrário, ainda que se esforce, nada pode, porque, na verdade, esses mistérios espirituais se discernem espiritualmente. Que quer dizer isso? Porque são inteiramente escondidos à perspicácia humana, só se fazendo manifestos pela revelação do Espírito; por isso que são tidos por estultície onde o Espírito de Deus não ilumina. Anteriormente, porém, Paulo exaltara acima da capacidade dos olhos, dos ouvidos, das mentes, as coisas que Deus preparou para os que o amam [1Co 2.9]. Além disso, declarara que a sabedoria humana é como que um véu pelo qual a mente é impedida de ver Deus. Que desejamos ainda? O Apóstolo declara que a sabedoria deste mundo foi por Deus feita vã [1Co 1.20]. E nós, na verdade, lhe atribuiremos capacidade com que possa penetrar até Deus e os recônditos do reino celeste? Longe de nós tão grande loucura!

Calvino, J. (2006). As Institutas. (W. Carvalho Luz, Trad.) (Edição Clássica, Vol. 1–4). São Paulo: Editora Cultura Cristã.

Sem categoria

MUDANÇAS NA DIREÇÃO CORRETA!

Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele.

Isaías 30.21 (RA)

Muitas mudanças estão acontecendo na vida de muitas pessoas de nossa igreja: mudanças na escola dominical; mudanças nos assuntos de escola; mudanças de casa para algumas famílias, entre outras.

É justamente sobre este tema que o versículo responde: “quando estivermos nos desviando do caminho certo, poderemos corrigir a “nossa rota” de acordo com a vontade de Deus”.

Para tanto, gostaria de extrair deste versículo duas atitudes importantes para não continuarmos na direção errada:

A primeira delas é ouvir a voz de Deus. O que só acontece quando temos tempo de leitura e meditação em Sua Palavra, bem como tempo de oração com Ele.

A segunda é seguir a a direção que Ele nos orienta. Isso também só é possível quando obedecemos o que Ele orienta em Sua Palavra.

Portanto, neste maravilhoso e esclarecedor versículo da Bíblia, encontramos orientações de Deus para mudanças na direção certa.

E que no decorrer deste semestre Deus fale sempre atrás de nós sobre qual a direção que ele deseja que sigamos. E por Sua graça possamos amadurecer com as mudanças que estaremos vivendo. Amem!

Soli Deo Glória

Reverendo Eutichio Alves é pastor na Comunidade Presbiteriana Águas Vivas em Atibaia – SP. Bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e Mestre pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. Esposo de Adriana e pai da Amanda.

Sem categoria

O DECRETO DIVINO E AS AÇÕES DOS HOMENS

Todas as ações dos homens, fazem parte do decreto divino. O termo “decreto de Deus” diz respeito ao propósito ou determinação em relação a acontecimentos futuros. Isso significa, que tudo que acontece no mundo, está relacionado ao propósito de Deus, e não, por causa das leis fixas da natureza ou obra do destino ou do acaso, como muitos acreditam. Não são os homens quem dirigem a história, mas o Deus Criador de todas as coisas que age para que as coisas aconteçam segundo os seus propósitos. Os homens são apenas Seus agentes.

Em todas às ações dos homens Deus está presente, ou seja, tem a sua participação em tudo. Nunca se pode excluir Deus das ações dos homens, quer sejam boas ou sejam más. “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17:28).

Deus tem um plano, e realizará esse plano conforme tudo que ele propôs “…Eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” (Is 46.9-10). Esse plano foi traçado antes da fundação do mundo. Deus age com sua providência cumprindo no tempo aquilo que Ele planejou.

Deus conhece todas as coisas, pois Ele é onisciente. Contudo, Deus não só conhece, como tem o controle também de todas as coisas, e através de Sua soberania (onipotência), executará a realização de seu plano decretado desde a eternidade.

Nenhuma ação dos homens é realizada independente de Deus. Em Sua soberania, Deus atua até mesmo nos atos maus dos homens maus. Deus tem o total controle do universo. Ele guia os eventos do mundo para um determinado fim, que é o “beneplácito de sua vontade”(Ef 1.5), é o seu supremo propósito para esse mundo que redunda em “louvor para a sua Glória”(Ef 1,12).

Deus está orquestrando tudo. Deus é soberano sobre o mal, embora Ele não seja o autor do mal. Mas Deus usa o mal que já está no mundo para seus bons propósitos redentores. Deus não cria o mal, porém, em se tratando do bem, ele cria, Ele é a própria fonte do bem, e de tudo que é bom. Ele é o Deus que trabalha, conforme está escrito em Isaías: “ Desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera”(Is 64.4).

Deus usa a quem Ele quer e o que Ele quer para executar seus planos. Deus é bom sempre. Ele é justo sempre. não há erro no Altíssimo. Cremos no Deus soberano criador de todas as coisas que governa crentes e descrentes. Todos os propósitos de Deus foram feitos em sabedoria e Ele tem o poder necessário para executá-los, por isso não há motivo para mudanças “Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras”(Atos 15.18). É somente sobre a base dos decretos divinos que podemos compreender e crer que “todas as coisas são para o bem”(Rm 8.28).

Mariza Tavares de Souza é Advogada e Mestre em Divindade (M. Div), com concentração em estudos Históricos-Teológicos pelo Centro Presbiteriano Pós-Graduação Andrew Jumper. Bacharel em Direito, Pela Universidade Federal do Pará (1984). Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Universidade São Judas (2001). Professora da Escola Bíblica Dominical (classe adultos) da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. Natural de Belém-PA, em 14/10/1956. Casada há 40 anos com o Professor Universitário Eloi Tavares de Souza, Mãe e Avó.

Sem categoria

É POSSÍVEL PREGAR O EVANGELHO SEM USAR PALAVRAS?

Rafael Soletti Martin

SIM NÓS PODEMOS anunciar o Evangelho de Cristo por meio de um ato, MAS APENAS UM ATO!

1 Coríntios 11:26
Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.

Este é o único ato legal que anuncia o Evangelho de Cristo por si mesmo. E mesmo assim sempre que esse sacramento for administrado, ele será acompanhado do estudo da Palavra e da comunhão da igreja. Somente pregará desta maneira aquele que está em comunhão com Cristo. Automaticamente isso exclui o movimento desigrejado.

Diferente da heresia ensinada em muitas igrejas, agências missionárias e seminários, o mandamento de Cristo é: “Pregue a Palavra”. (Mt 28.20; 10.7; Mc 16.15; Lc 9.60; Rm 10.14; Gl 1.23; 2 Tm 4.2)

Portanto, aquela famosa frase “pregue o evangelho, se possível use palavras”, não tem fundamento bíblico e pode ser considerado uma heresia, uma doutrina que não tem respaldo bíblico por atacar um dos pilares do cristianismo (pregação/ensino) e desconstruir o que define uma igreja que é: o ensino da palavra, a prática das ordenanças (sacramentos), e a prática da disciplina eclesiástica.

AS OBRAS

As boas obras estão vinculadas a nossa fé, uma vez que Deus nos planejou para isto (Ef 2.10; Rm 8.29). Porém, ela apenas evidência a fé que temos (Tg 2.17-26), e o máximo que ela pode fazer é abrir portas para a PREGAÇÃO DO EVANGELHO (1 Pe 3.1)

RESUMINDO

Quer pregar o evangelho pelas obras? Esteja em comunhão com Deus, e seja membro de uma igreja local. Seja batizado e celebre a Ceia do Senhor, caso contrário não há essa opção.

PREGUE O EVANGELHO COM PALAVRAS, pregue a tempo e fora de tempo, estude, treine, obedeça, seja ousado, pratique a comunhão com Deus, seja membro de uma igreja local, seja batizado e celebre a Ceia do Senhor.

Se puder, dê comida àquele a quem você vai pregar, se puder, aqueça aquele que tem frio antes de pregar a ele, se puder, estenda a mão aquele que precisa antes de pregar, se coloque no lugar daquele a quem você pregará, caso contrário, é pura hipocrisia, preguiça, comodismo e desobediência.

Romanos 10:14-15
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!

A seu serviço, Rafael Soletti Martin
Sem categoria

Qual a explicação para o Batismo de Jesus?

Mariza Tavares de Souza

É notório que o batismo de Jesus não era de arrependimento, pelo simples fato de João não querer batizar Jesus, como podemos observar quando ele diz ” Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?”(Mateus 3.14).

Contudo, a explicação para o batismo de Jesus, nós encontramos no próprio texto, mediante a resposta de Jesus, quando declara “Deixa por enquanto, porque assim, nos convém cumprir toda a justiça.” (Mt 3.15). Podemos concluir aqui, que o batismo de Jesus, era para cumprir toda a justiça. Mas, o que significa essa expressão para nós?

O sentido dessa expressão, era que o batismo de Jesus era necessário, pois estava em conformidade com a justiça divina. É importante ressaltar, que o batismo de João tinha como objetivo cumprir três coisas relevantes: a primeira, era a aparição pública de Jesus; a segunda, era para cumprir a promessa de que era o próprio João quem anunciaria o Cristo; a terceira , a unção do Messias.

O batismo representava a unção de Jesus com o Espírito Santo, para o ofício e tarefa do Servo Messiânico do Senhor, da mesma forma que os reis, os sacerdotes e profetas eram ungidos.

Após Jesus ser batizado diz a Palavra de Deus: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como pomba , vindo sobre ele” (Mt 3.16). Podemos certificar, que o elemento principal no batismo de Jesus, não foi a água, porém, o Espírito Santo. Haja vista, que os Céus se abriram no momento em que Jesus foi batizado. E sabemos, que Céus abertos significam sempre acesso.

Logo após, aconteceu algo de maravilhoso e extraordinário, quando ouviu-se a voz de Deus que dizia: “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Depois de 400 anos de silêncio, Deus falava diretamente do céu, anunciando o maior de todos os acontecimentos.

Nesse momento Deus estava indicando que só Jesus era o escolhido para realizar a missão de salvação.

Mariza Tavares de Souza é Advogada e Mestre em Divindade (M. Div), com concentração em estudos Históricos-Teológicos pelo Centro Presbiteriano Pós-Graduação Andrew Jumper. Bacharel em Direito, Pela Universidade Federal do Pará (1984). Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Universidade São Judas (2001). Professora da Escola Bíblica Dominical (classe adultos) da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. Natural de Belém-PA, em 14/10/1956. Casada há 40 anos com o Professor Universitário Eloi Tavares de Souza, Mãe e Avó.

Sem categoria

Medite na Bíblia Sacramentalmente.

A meditação cristã difere de todos os outros tipos de meditação porque se concentra naquilo que Jesus diz; é a meditação na sua palavra, tal como ela nos é dada nas Escrituras [cf. Dt 6.6]. Meditamos na sua poderosa palavra. A palavra de Jesus tem um impacto sobre nós quando prestamos atenção a ela, faz sua obra em nós quando a ouvimos, e nos transforma interiormente quando permitimos que ela fale. As palavras de Jesus, na verdade, produzem nossa meditação. No entanto, isso não acontece automaticamente, e sim somente quando colocamos nossa confiança nela.

Como cristãos, todos nós já experimentamos o poder da Palavra de Deus em nós como uma palavra de juízo e salvação. O impacto desta palavra sobre nossa consciência é descrito mais vividamente em Hb 4.12-13:

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.

Quando meditamos na Palavra de Deus, estamos espiritualmente nus diante de Deus e à sua vista. Sua palavra nos coloca face a face com ele. Essa palavra penetra e expõe os desígnios secretos de nossos corações; ela nos deixa nus diante de Deus e nos considera responsáveis, diante dele, por aquilo que fazemos. Mas, o melhor de tudo, ela faz tudo isso para nos dar vida e realizar sua obra em nós.

Comentário de Lutero

Martinho Lutero explica o poder da meditação na Palavra de Deus de forma memorável em um sermão pregado no Natal de 1519. Nele, Lutero fala sobre a meditação “sacramental” nos Evangelhos e suas histórias a respeito de Jesus:

Todas as palavras e histórias dos evangelhos, são sacramentos de um tipo, sinais sagrados pelo quais Deus opera nos crentes aquilo que as histórias anunciam. Assim como o batismo é o sacramento pelo qual Deus nos restaura, e assim como a absolvição é o sacramento pelo qual Deus perdoa pecados, assim as palavras de Cristo são sacramentos pelo meio dos quais ele opera salvação. Por essa razão, o evangelho deve ser tomado sacramentalmente, isto é, as palavras de Cristo precisam ser meditadas como símbolos por meio dos quais se concede aquilo que as palavras por si mesmas representam: justiça, poder e salvação. Meditamos corretamente no evangelho quando o fazemos sacramentalmente, pois, por meio da fé, as palavras produzem aquilo que elas mesmas descrevem. Cristo nasceu; creia que ele nasceu por você e você nascerá novamente. Cristo venceu a morte e o pecado; creia que ele os venceu por você e você os vencerá. (WA 9.439,442)

Ao falar das palavras de Cristo como sacramentos, Lutero não está usando o termo em seu sentido estrito, mas de forma mais ampla, como uma ratificação divina, um sinal sagrado que transmite aquilo que anuncia. Nem a Palavra de Deus por si mesma nem a fé em si produzem o tipo de meditação que Deus deseja. Antes, meditação é o exercício da fé em Cristo e em sua palavra performativa, pois a fé recebe o que Cristo concede para nós por meio da sua palavra. Nós recebemos quando cremos…

Nosso Guia Espiritual

Lutero, em seu ensino sobre a meditação, destaca esse papel do Espírito Santo como nosso instruidor e guia. Sua premissa básica é de que o mesmo Espírito que inspirou as Escrituras ainda dá vida a elas e também a nós, por meio delas. Por isso ele diz:

Você deve meditar… não somente em seu coração, mas também externamente, repetindo e comparando o discurso oral e as palavras literais do livro, lendo e relendo-as com diligente atenção e reflexão, para que você possa perceber o que o Espírito Santo quer dizer por elas… Pois Deus não dará o seu Espírito a você sem a palavra externa; então tire proveito delas. A ordem de Deus para escrever, pregar, ler, ouvir, cantar, falar, etc. exteriormente não foi dada em vão. (AE 34.286)

Assim, recebemos o Espírito Santo proveniente do Pai ao meditarmos na palavra externa, a palavra que nos vem de fora, a palavra que nos fala a partir das Escrituras. Este entendimento de como o Espírito Santo é dado por meio da Palavra de Deus molda a prática evangélica da meditação. Antes de meditarmos naquilo que está escrito para nós nas Escrituras, fazemos bem em orar e pedir para Deus Pai, por meio do seu querido Filho, que envie o Espírito para nos Guiar, iluminar e capacitar. No entanto, não oramos apenas para que o Espírito Santo dirija a nossa meditação na sua palavra; nós, na verdade, recebemos o Espírito Santo ao meditarmos na palavra. Assim, meditamos na palavra para que o Espírito fale para nós o que Deus Pai tem a nos dizer e conceder por meio do seu Filho.

A Pregação do Espírito

O dom do Espírito Santo fica mais evidente naquilo que Lutero chama de “pregação do Espírito”. Com isso, ele se refere ao fluxo ocasional de inspiração e iluminação, de exultação e capacitação que nos vem ao meditarmos na Palavra de Deus. Não podemos forçar a inspiração; podemos somente recebê-la quando ela acontece. A iluminação é concedida quando prestamos atenção às Escrituras e ficamos profundamente interessados nelas de tal forma que elas falam pessoalmente para nós. Lutero dá esse conselho sobre a iluminação que vem na meditação:

Se tal abundância de bons pensamentos nos vem, devemos… dar espaço a tais pensamentos, ouvir em silêncio e não obstruí-los em em hipótese alguma. O próprio Espírito Santo prega aqui, e uma única palavra do seu sermão é muito melhor que milhares de orações nossas. (AE 43.198)

John W. Kleinig, Grace upon Grace: Spirituality for Today (St. Louis: Concordia, 2008) Bíblia de Estudo da Reforma, Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, SP.

Sem categoria

JESUS CRISTO FOI CRIADO POR DEUS OU SEMPRE EXISTIU?

Mariza Tavares de Souza

Muitos negam a existência eterna de Jesus Cristo, baseados por um texto de Paulo aos Colossenses, que diz: ” Este (Jesus) é a imagem do Deus invisível e primogênito de toda a criação” (Cl 1.15). Argumentando que essa expressão, significa que Jesus foi o primeiro a ser criado por Deus em toda a criação.

Porém, essa interpretação está totalmente equivocada, pois a palavra “prototokos” (primogênito) frisa a preexistência e singularidade de Cristo, assim como, mostra a Sua superioridade sobre a criação.

Essa expressão “o primogênito de toda a criação”, não aponta de maneira alguma que Cristo foi criado, mas sim, que ele é o soberano da criação. Em Apocalipse 3.14, onde é dito “Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”, em que muitos também se apegam a esse texto para negar a eternidade de Jesus, o termo grego arché (princípio) significa “origem”, ou “fonte”, ou seja, aquele que inicia. Jesus é o arquiteto da criação (Hb 1.2).

Jesus Cristo sempre existiu, ele é eterno, assim como Deus Pai é eterno. Jesus Cristo é Deus encarnado. Ele despontou a sua divindade e eternidade quando afirmou às pessoas, que o acompanhavam em seu ministério terreno: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou! (Jo 8.58). Aqui, Jesus estava afirmando ser Deus em carne. Os judeus inclusive, quiseram apedrejá-lo até a morte, pois para os judeus consideravam isso uma blasfêmia, dizer que ele era eterno como Deus Pai. Essa declaração foi feita novamente por João quando falou sobre a natureza de Cristo “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus”(Jo 1.1). Antes de morrer em sua oração Jesus revela a sua eterna preexistência, quando ora ao Pai: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo”.

Mesmo antes dos registros dos tempos, Jesus e o Pai sempre foram um em essência, compartilhando do atributo da eternidade em igualdade. Tanto a natureza eterna de Deus, como o seu eterno poder são revelados mediante a Sua criação (Rm 1.20) e os homens tomam conhecimento disso pelo testemunho apresentado de sua criação. Futuramente Deus criará um novo céu e nova terra, que permanecerão com Ele, por toda a eternidade. E, nós que somos seus filhos vamos participar dessa eternidade junto com o nosso soberano Deus, pois fomos criados a Sua imagem.

As Escrituras, do Antigo e Novo Testamento certificam a preexistência de Jesus. Ele sempre existiu. Jesus é eterno Ele jamais vai mudar em sua essência, pois ele sempre será o mesmo. Jesus não teve princípio e jamais terá fim.

Mariza Tavares de Souza é Advogada e Mestre em Divindade (M. Div), com concentração em estudos Históricos-Teológicos pelo Centro Presbiteriano Pós-Graduação Andrew Jumper. Bacharel em Direito, Pela Universidade Federal do Pará (1984). Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Universidade São Judas (2001). Professora da Escola Bíblica Dominical (classe adultos) da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. Natural de Belém-PA, em 14/10/1956. Casada há 40 anos com o Professor Universitário Eloi Tavares de Souza, Mãe e Avó.

Sem categoria

QUE PENA: ACABEI COM AS COISAS DE MENINO!

Ivo Matias Damas


“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” (I Co.13:11)

1- Quando eu era menino, não me preocupava com o tal futuro. Quando crescemos, costumamos esquecer que o futuro a Deus pertence. Criamos expectativas negativas do futuro, e por isso sofremos.


2- Quando eu era menino, a simplicidade de uma bolinha de gude, uma pipa, uma partida de futebol na rua, um nado na lagoa, e até um banho na chuva, me faziam feliz. Quando crescemos, vamos querendo parecer ser o que não somos, e sofremos por não possuir o que não precisamos.


3- Quando eu era menino, pegava no sono rapidinho. Quando crescemos, as preocupações atrapalham o sono tranquilo.


4- Quando eu era menino, não me preocupava com o poder. Não armava situações para controlar nada. Quando crescemos, queremos exercer algum tipo de domínio, e, alguns de nós, chegam a produzir estratégias usando o próximo como escada.


5- Quando eu era menino, o sorriso era fácil. Quando crescemos, ficamos sempre com o pé atrás, pensando mil coisas ao mesmo tempo, dificultando a risada gostosa.


6- Quando eu era menino, a ira era passageira. Quando crescemos, aninhamos raiva no coração e gostamos de mantê-la.


7- Quando eu era menino, não suspeitava mal. Quando crescemos, suspeitamos de tudo e de todos. Dificilmente aprofundamos relacionamentos interpessoais.


8- Quando eu era menino, não era esnobe. Quando crescemos, não perdemos a chance de aparecer, de nos colocar sob as luzes da ribalta.


9- Quando eu era menino, não contabilizava os erros dos outros. Quando crescemos, tornamo-nos auto-indulgentes, minimizando nossas piores idiossincrasias, e maximizando o “argueiro” no olho do irmão.


10- Quando eu era menino, meu pai era meu herói, tudo resolvia. Quando crescemos, esquecemos que Deus é nosso Pai provedor.


Peço perdão a Deus por ter deixado de ser menino. O amor vai desaparecendo aos poucos quando deixamos de ser meninos.
Que tal voltarmos a ser meninos?

Presbítero Ivo Matias Damas

Sem categoria

DESFRUTANDO A VIDA ETERNA NO PRESENTE: O AMOR AOS IRMÃOS

Mariza Tavares de Souza

O Novo Testamento deixa bastante claro que a vida eterna não se trata de uma condição que recebemos quando morremos e vamos para o céu. Ao contrário, trata-se de uma vida que podemos desfrutar no presente. É muito mais do que uma vida próspera financeiramente, uma profissão bem-sucedida, um casamento feliz ou uma família unida. É a vida que Cristo apresenta, quando diz: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt. 4.4). É desfrutar de uma comunhão constante com Deus e de um relacionamento íntimo e prazeroso. Nada nesse mundo se iguala ao deleite de compartilhar a vida com Deus!

Com a vida eterna em nós, a única coisa que queremos é viver – no sentido de aplicarmos em nossa vida os ensinamentos de Cristo que aprendemos do Evangelho. Devemos espelharmos e testemunharmos Cristo, através de nossas ações e atitudes, exalando o bom perfume de Cristo por onde passarmos, a fim de que às pessoas possam ver Cristo em nós e possam se certificarem que somos pessoas vivificadas e fomos transformadas pelo poder de Deus. Isso tudo acontece porque quando Deus vivifica e regenera, Ele transmite a sua própria vida espiritual à pessoa. Essa vida espiritual transmitida faz nascer um relacionamento pessoal, intimo entre ambos, fazendo com que a pessoa regenerada deseje ardentemente a cada dia conhecer mais a Deus e a Jesus Cristo (Jo. 17.3). Ela passa a compartilhar a sua vida com Deus por intermédio de Cristo (1Jo. 1.1-4).

A vida eterna que recebemos é um dom divino e uma propriedade que tomamos posse perpetuamente. Nada nesse mundo tirará, de nós, essa graça que nos foi concedida. Jesus afirma: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10.28). A Vida Eterna começa aqui e agora. Já estamos vivendo a vida eterna hoje, pois o Evangelho afirma que o Reino já chegou. Não devemos ficar de braços cruzados aguardando a volta de Cristo. Devemos viver o presente intensamente; trabalhando em prol do Reino de Deus; e desejo ardente em nosso coração pela Segunda Vinda do nosso Senhor.

Muitos ao receberem a nova vida se acomodam. Eles ainda vivem com medo de perderem a salvação. Vivem em busca de revelação e profecias, ou buscando rituais de aproximação – em vez de viver a vida em toda a sua plenitude, que lhe é permitida viver nesse mundo. Precisamos desfrutar da certeza de nossa salvação, manejando bem a palavra da verdade (2Tm. 2.15-16) e não ficar dando ouvidos as experiências de fontes duvidosas. Devemos seguir a orientação de Paulo à Timóteo, quando diz: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual foste chamado de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas” (1Tm. 6.12).

Em termos subjetivos, o grande testemunho da nossa salvação é o testemunho interno do Espírito Santo, que assegura em nosso íntimo que somos filhos de Deus (Rm. 8.15-17). Contudo, a Escritura também nos fala de evidências externas da nossa filiação. Uma delas é a manifestação do amor sincero dedicado aos irmãos. O cuidado, o zelo, a generosidade e o carinho que os dispensamos é uma forma de mostrarmos que cremos realmente em Cristo e que estamos unidos a Ele. Esse sentimento sublime, é uma prova dessa gloriosa dádiva permanente em nós. A vida no sentido espiritual substitui a morte do cristão. A vida espiritual de cada pessoa é medida pelo amor que é demonstrado pelos irmãos. É impossível uma pessoa ser um cristão e não praticar o amor fraterno. João é bem enfático ao dizer que os “vivos” amam e os “mortos” odeiam: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” (1Jo. 3.14-15).

A mensagem de João, no texto acima, é sobre o amor ao próximo. Quando Jesus esteve aqui na terra, ele nos deu um novo mandamento: que deveríamos amar uns aos outros, assim como ele nos amou (Jo. 13.34). É desse amor que João está se referindo. João expõe, em sua primeira Carta (3.23), o mandamento de Cristo: “Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou.” Esse novo mandamento equivale as duas partes dos Dez Mandamentos, sendo que a primeira parte tem prioridade sobre a segunda. João prossegue narrando o ódio em que o mundo vive após a Queda. Ele menciona o primeiro assassinato ocorrido no mundo, motivado pelo ódio de Caim contra o seu irmão Abel, afirmando que foi devido à justiça de Abel. Enquanto estivermos nesse mundo, haverá ódio e desamor dos ímpios pelos crentes. Isso não deve causar espanto, pois eles estão mortos espiritualmente. Contudo, essa falta de amor não pode acontecer entre os cristãos, porque já passamos da morte para a vida e quem que não ama permanece na morte (3.14). João declara que quem odeia o irmão é assassino, e não tem a vida eterna permanente em si (3.15).

Removido do Livro: Teologia da Prosperidade a Luz das Escrituras .

undefined Mariza Tavares de Souza é Advogada e Mestre em Divindade (M. Div), com concentração em estudos Históricos-Teológicos pelo Centro Presbiteriano Pós-Graduação Andrew Jumper. Bacharel em Direito, Pela Universidade Federal do Pará (1984). Pós-Graduada em Direito Empresarial pela Universidade São Judas (2001). Professora da Escola Bíblica Dominical (classe adultos) da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. Natural de Belém-PA, em 14/10/1956. Casada há 40 anos com o Professor Universitário Eloi Tavares de Souza, Mãe e Avó.

Sem categoria

Batismo Infantil

Rev. Leandro Lima

A circuncisão separava os filhos dos crentes dos filhos dos incrédulos e os localizava sob as asas protetoras do pacto (Gn 17.10-12). Quando Deus estabeleceu seu pacto com Abraão, ele ordenou: “Esta é a minha aliança que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio, será isso por sinal de aliança entre mim e vós” (Gn 17.10-11). Deus não trabalha apenas com indivíduos, mas com famílias. Para “você e sua casa” é uma frase comum em ambos testamentos. No caso de Abraão , Deus estabeleceu um sinal pactual que fizesse separação entre os filhos de crentes e os filhos de incrédulos. Note que a circuncisão não apenas representava a separação, ela era a separação, Deus ordenou que os infantes (de oito dias) em Israel fossem circuncidados. Abraão creu em Deus e por isso foi justificado. Circuncidareis seu filho era uma atitude de fé na promessa de Deus. Por que será que Deus não esperou o filho de Abraão tivesse idade suficiente para fazer uma decisão por si mesmo? A resposta é simples: “Porque a salvação não é centrada no homem, mas em Deus”. O foco não é a nossa escolha, mas a escolha divina. Deus vem para nós e para nossos filhos em amor e graça e coloca sua marca de posse no povo do seu pacto. Para aqueles que argumentam que a pessoa precisa se arrepender e crer para depois ser batizada, podemos dizer que é assim para os adultos, pois Deus exigiu isso de Abraão para que fosse circuncidado, mas Deus não exigiu isso de Isaque. Isaque foi circuncidado porque era um filho do pacto. A fé que Abraão demonstrou era suficiente para que Isaque também recebesse a marca do pacto.

No Novo Testamento, p interesse de Deus pelas famílias continua. Quando Pedro pregou um sermão Evangelístico no templo após o dia de Pentecostes ele declarou; “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus chamar”. (At 2.39). É interessante que Pedro destaque a questão da promessa. Ele próprio identificou a promessa do derramamento do Espírito como de cumprindo naquele dia. Agora ele fala da promessa de Deus aos filhos em termos bem parecidos com aqueles que o próprio Deus usou ao estabelecer a Aliança com Abraão. A orientação aqui não está no fato de que Deus espera que nossos filhos queiram ter um compromisso com ele, mas no fato de que é ele quem os chama. O Apóstolo Paulo assegura-nos que um pai crente pode santificar um filho mesmo que o outro cônjuge seja incrédulo, pois como ele mesmo diz: “Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos” (1Co 7.14). Por que Paulo usa a mesma distinção veterotestamentária de “puro” e “impuro” para os filhos, se não há diferença entre os filhos de crentes e os filhos de incrédulos? Porque certamente existe uma distinção. Não se pode negar que todos, para que sejam salvos, precisam crer em Jesus, porém, é um grande erro tratar de forma igual um filho de crente e um filho do mundo, pois a Bíblia demonstra que há diferença entre eles, e há uma marca que torna essa distinção clara, essa marca é o batismo. A marca da Aliança é a própria distinção

A igreja Primitiva seguiu fielmente esta orientação Bíblica. Os mais antigos documentos pós-apostólicos demonstram uma imutável prática do batismo infantil. O que isso significa? Significa que os Apóstolos batizavam crianças. E o fato de não haver nenhuma indicação do Novo Testamento de quem deve ser batizado pesa ainda mais a favor do batismo infantil, pois, então, permanece a base do Antigo Testamento. Para aqueles que argumentam que o silêncio do Novo Testamento a respeito das crianças impossibilita que elas sejam batizadas, teríamos que dizer que, se fosse assim, então, as mulheres não poderiam participar da Ceia, pois o Novo Testamento não as autoriza explicitamente. Mas todos entendem por implicação, que a mulher deve participar, e é esse mesmo entendimento que leva os reformados a defender o batismo das criança. No Antigo Testamento as crianças recebiam o sinal da Aliança com oito dias (Gn 17.12). Se no Antigo Testamento, os pais não esperavam as crianças crescerem para decidirem por si mesmas se queriam a marca da Aliança, por que deveríamos esperar hoje?

É preciso que fique claro, portanto, que a base para batizar as crianças é a doutrina do Pacto da Graça. Se os pais fazem parte do pacto, então os filhos também fazem. Porém, isso não significa que estão automaticamente salvos. Não somos salvos por nascimento, somos salvos por fé. Deus não prometeu que cada filho de pais crentes será salvo, antes tem prometido perpetuar sua obra de graça na descendência dos crentes (Ver Gn 17.7; Sl 103.17-18; 105.6-11; Is 59.21; At 2.39). Sobre essa base os pais crentes devem batizar seus filhos, confiando que Deus desenvolverá sua obra pactual com eles, enquanto eles próprios esforçam-se por ensinar a criança no caminho certo para que não se desvie quando adulta (Pv 22.6). Quanto ao argumento que seria inútil batizar as crianças sem ter certeza de que serão salvas, podemos contra argumentar que não temos certeza se todos os adultos que se batizam são realmente salvos. O batismo dos adultos também não garante a salvação. Mas é uma atitude de fé consagrar os filhos ao Senhor e administrar sobre eles o símbolo da Aliança. Ao contrário de desagradar a Deus, essa prática somente o agradaria, pois ele próprio exigiu essa atitude de fé no fato de Abraão circuncidar seu filho Isaque. O batismo das crianças que são filhas de pais crentes simboliza a realidade de que elas são separadas aos olhos de Deus. Neste batismo, pais que vivem na Aliança se comprometem a criar seus filhos conforme a Palavra do Senhor. Por outro lado, como diz Calvino, “devemos temer sempre o perigo que nos ameaça, se desprezarmos o privilégio de assinalar os nossos filhos com o selo da Aliança, de que o Senhor nos castigue por termos renunciado à benção que nos é oferecida no Batismo (Gn 17.14).

Ainda que o Novo Testamento não diga explicitamente que as crianças devam ser batizadas, há relatos de várias “casas” que receberam o batismo através dos Apóstolos. Por exemplo, Lídia e toda a sua casa (At 16.15), bem como o carcereiro e todos os seus (At 16.33; Ver ainda At 18.8 ). É verdade que os textos não dizem explicitamente que havia crianças nas casas, mas negar essa possibilidade é uma presunção que se aproxima muito do preconceito.

Leandro Lima é bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição – SP (1999). Mestre em Teologia e História pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper – SP (2003). Mestre em Ciências da Religião pelo Mackenzie – SP (2010). Doutor em Letras – Literatura pela Universidade Mackenzie, com tese sobre o livro de Apocalipse. Professor residente do CPAJ, atuando em Novo Testamento e Teologia Sistemática. Dentre vários livros e artigos, autor de: Razão da Esperança – Teologia para hoje (2006, Editora Cultura Cristã). As Grandes Doutrinas da Graça (10 volumes pela Editora Odisseu, 2007-2012). Brilhe a sua luz: o cristão e os dilemas da sociedade atual (2009, Cultura Cristã). O Futuro do Calvinismo: os desafios e oportunidades da pós-modernidade para a Igreja Reformada (Cultura Cristã, 2010). Autor de uma ficção intitulada Olam (Crônicas de Luz e Sombras 2012 – Crônicas do Mundo e do Submundo 2014). Pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro – SP. Professor de Teologia Sistemática no Seminário JMC. Casado com Vivian e pai do Vicktor Daniel.