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#02 Sobre o Livre Arbítrio

  1. Nosso Consentimento com Roma
    O livre-arbítrio, tanto para eles quanto para nós, é entendido como um poder misto na mente e na vontade do homem; pelo qual, discernindo o que é bom e o que é mau, ele escolhe ou recusa conforme o caso.

Conclusão 1
O homem deve ser considerado em quatro estados: (I) como foi criado; (II) como foi corrompido; (III) como é renovado; (IV) como será glorificado.

No primeiro estado, atribuímos à vontade do homem a liberdade da natureza, na qual ele podia querer ou não tanto o bem quanto o mal; no terceiro, a liberdade da graça; no último, a liberdade da glória. A dúvida reside no segundo estado; e, mesmo nele, concordamos, como as conclusões seguintes irão declarar.

Conclusão 2
As questões sobre as quais o livre-arbítrio se ocupa são principalmente as ações dos homens, que são de três tipos: naturais, humanas e espirituais.

As ações naturais são aquelas comuns aos homens e aos animais, como comer, beber, dormir, ouvir, ver, cheirar, provar e mover-se de um lugar para outro: em todas essas, unimo-nos aos papistas e sustentamos que o homem tem livre-arbítrio e, mesmo após a queda de Adão, por um poder natural da mente, realiza livremente qualquer uma dessas ações ou semelhantes.

Conclusão 3
As ações humanas são aquelas comuns a todos os homens, bons e maus, como falar e usar a razão, praticar todas as artes mecânicas e liberais, e o desempenho externo de deveres civis e eclesiásticos, como ir à igreja, falar e pregar a palavra, estender a mão para receber o sacramento e emprestar o ouvido para ouvir externamente o que é ensinado. E aqui podemos incluir as ações externas das virtudes civis; a saber, justiça, temperança, gentileza, liberalidade. E nestas também nos unimos à Igreja de Roma e dizemos (como a experiência ensina) que os homens têm uma liberdade natural de vontade, para realizá-las ou não. Paulo diz em Romanos 2:14: “Os gentios que não têm a lei fazem as coisas da lei POR NATUREZA”, ou seja, por força natural; e ele diz de si mesmo, que antes de sua conversão, “quanto à justiça da lei, era irrepreensível” (Filipenses 3:6). E por essa obediência externa, os homens naturais recebem recompensa em coisas temporais (Mateus 6:5; Ezequiel 29:19). E, no entanto, aqui devem ser lembradas algumas advertências:

(I) Que nas ações humanas, a vontade do homem é fraca e frágil, e seu entendimento escuro e limitado; e, por isso, ele frequentemente falha nelas. E em todas essas ações, como Agostinho, entendo que a vontade do homem está apenas ferida ou meio morta.

(II) Que a vontade do homem está sob a vontade de Deus, e portanto deve ser ordenada por ela; como Jeremias diz, capítulo 10, versículo 23: “Ó Senhor, sei que o caminho do homem não está em si mesmo; nem é do homem caminhar e dirigir seus passos”.

Conclusão 4
O terceiro tipo de ações são espirituais, concernentes mais intimamente ao coração e à consciência, e estas são de dois tipos: ou dizem respeito ao reino das trevas, ou ao reino de Deus. As que dizem respeito ao reino das trevas são pecados propriamente ditos; e nestes também nos unimos aos papistas e ensinamos que, nos pecados ou ações más, o homem tem liberdade de vontade. Alguém pode dizer que pecamos necessariamente, porque quem peca não pode deixar de pecar, e que o livre-arbítrio e a necessidade não podem coexistir. De fato, a necessidade de compulsão ou coação e o livre-arbítrio não podem concordar; mas há outro tipo de necessidade que pode coexistir com a liberdade de vontade: pois algumas coisas podem ser feitas necessariamente e também livremente. Um homem que está em prisão fechada, deve necessariamente ali permanecer e não pode, de forma alguma, sair e andar onde quiser; ainda assim, ele pode se mover livremente e andar dentro da prisão; assim também, embora a vontade do homem esteja acorrentada naturalmente pelos laços do pecado, e portanto não possa deixar de pecar, e, por conseguinte, peque necessariamente, ela também peca livremente.

Conclusão 5
O segundo tipo de ações ou coisas espirituais diz respeito ao reino de Deus; como arrependimento, fé, a conversão de um pecador, nova obediência e semelhantes: nas quais também, em parte, concordamos com a Igreja de Roma e dizemos que, na primeira conversão de um pecador, a vontade do homem concorre com a graça de Deus, como uma parceira ou cooperadora em certo sentido. Pois na conversão de um pecador são necessários três elementos: a palavra, o Espírito de Deus e a vontade do homem: pois a vontade do homem não é passiva em todos os aspectos, mas tem uma ação na primeira conversão e mudança da alma. Quando qualquer homem é convertido, essa obra de Deus não é feita por compulsão, mas ele é convertido voluntariamente: e no momento em que é convertido, pela graça de Deus ele quer sua conversão. Para este fim, disse Agostinho: “Aquele que te fez sem ti, não te salvará sem ti”. Além disso, é certo que nossa vontade é necessária para que possamos fazer bem qualquer coisa boa: mas não temos isso de nosso próprio poder, pois é Deus quem opera em nós o querer. Pois, ao mesmo tempo que Deus dá a graça, Ele também dá o desejo e a vontade de receber essa mesma graça; por exemplo, quando Deus opera a fé, ao mesmo tempo ele age sobre a vontade, fazendo-a desejar a fé e receber de bom grado o dom de crer. Deus transforma a vontade não desejosa em uma vontade desejosa; porque ninguém pode receber graça totalmente contra sua vontade, considerando que uma vontade forçada não é vontade. Mas aqui devemos lembrar que, embora no tempo a operação da graça pelo Espírito de Deus e a vontade dela no homem ocorram juntas, quanto à ordem, a graça é primeiro operada, e a vontade do homem deve primeiro ser atuada e movida pela graça, e então ela também age, deseja e move a si mesma. E este é o último ponto de consentimento entre nós e a Igreja Romana quanto ao livre-arbítrio; nem podemos ir além com eles.

2. Nossa Divergência ou Diferença com Roma
O ponto de diferença reside na causa da liberdade da vontade do homem em questões espirituais, que dizem respeito ao reino de Deus. Os papistas dizem que a vontade do homem concorre e trabalha com a graça de Deus na primeira conversão de um pecador por si mesma e por seu próprio poder natural, sendo apenas ajudada pelo Espírito Santo. Nós dizemos que a vontade do homem trabalha com a graça na primeira conversão, mas não por si mesma, e sim pela graça. Ou seja: Eles dizem que a vontade tem uma cooperação natural; nós negamos isso e dizemos que ela tem cooperação apenas pela graça, sendo em si mesma não ativa, mas passiva; querendo o bem apenas na medida em que é movida pela graça, pela qual deve ser primeiro atuada e movida, antes que possa agir ou querer.

E para que possamos entender melhor a diferença, usarei esta comparação: a Igreja de Roma apresenta a condição de um pecador pela situação de um prisioneiro, e nós fazemos o mesmo; observe então a diferença. Roma supõe que esse prisioneiro está acorrentado de mãos e pés com correntes e grilhões e, além disso, está doente e fraco, ainda que não totalmente morto, mas vivo em parte; supõe também que, estando nessa condição, ele não se move em busca de ajuda, embora tenha capacidade e poder para se mover. Nisso, se o carcereiro vier e tirar suas correntes e grilhões, segurá-lo pela mão e ajudá-lo a levantar-se, ele pode e irá, por si mesmo, ficar de pé, andar e sair da prisão: do mesmo modo (dizem eles) está o pecador acorrentado de mãos e pés pela corrente de seus pecados; e, no entanto, ele não está morto, mas doente, como o homem ferido no caminho entre Jericó e Jerusalém. E, portanto, ele não quer nem busca o que é bom; mas, se o Espírito Santo vier e apenas desatar suas amarras, e lhe estender a mão da graça, ele poderá então levantar-se por si mesmo e querer sua própria salvação, ou qualquer outra coisa que seja boa.

Da mesma forma, nós concedemos que um prisioneiro representa bem o homem natural; mas, ainda assim, ele deve ser um prisioneiro que não está apenas doente e fraco, mas completamente morto, incapaz de se mover, ainda que o carcereiro desate suas correntes e grilhões, nem ouvir, ainda que soem uma trombeta em seu ouvido; e, se o carcereiro desejasse que ele se movesse, deveria dar-lhe não apenas sua mão para ajudá-lo, mas também alma e vida. E tal é cada homem por natureza; não apenas acorrentado e preso em seus pecados, mas completamente morto neles; como alguém que jaz apodrecendo na sepultura, sem qualquer capacidade ou poder para se mover ou mexer-se: e, portanto, ele não pode sequer desejar ou fazer algo que seja verdadeiramente bom por si mesmo, mas Deus deve primeiro vir e colocar uma nova alma nele, mesmo o espírito da graça para vivificá-lo e renová-lo: e então, sendo assim revivido, a vontade começa a querer as coisas boas no exato momento em que Deus, por seu Espírito, primeiro infunde graça. E esta é a verdadeira diferença entre nós e a Igreja de Roma nesse ponto do livre-arbítrio.

3. Nossas Razões
Agora, para confirmar a doutrina que defendemos, a saber, que o homem não deseja sua própria conversão por si mesmo, seja em parte ou no todo, mas unicamente pela graça; estas razões podem ser apresentadas.

Primeira Razão
A primeira é tirada da natureza e da medida da corrupção do homem, que pode ser dividida em duas partes. A primeira é a ausência daquela justiça original que existia no homem pela criação; a segunda é uma inclinação e tendência para aquilo que é mau, e para nada que seja verdadeiramente bom. Isso é evidente em Gênesis 8:21: “A imaginação do coração do homem (diz o Senhor) é má desde a infância”; ou seja, a disposição do entendimento, da vontade, das afeições, com tudo o que o coração do homem idealiza, forma ou imagina, é totalmente má. E Paulo diz em Romanos 8:7: “A inclinação da carne é INIMIZADE contra Deus”. Estas palavras são muito significativas: pois o termo grego ???????, traduzido como “inclinação”, significa que os melhores pensamentos, os melhores desejos, as afeições e os esforços que há em qualquer homem natural, mesmo aqueles que se aproximam mais da verdadeira santidade, não são apenas contrários a Deus, mas são, em si mesmos, inimizade. E daí eu deduzo que o próprio coração, ou seja, a vontade e a mente, de onde vêm esses desejos e pensamentos, também são inimizade contra Deus. Pois, tal como é a ação, tal é a faculdade de onde ela procede; tal como é o fruto, tal é a árvore; tal como são os ramos, tais são as raízes. Por esses dois trechos, fica evidente que, no homem, não há apenas uma falta, ausência ou privação da justiça original, mas também uma tendência, por natureza, para o que é mau, tendência essa que inclui uma inclinação não para poucos, mas para todos e cada um dos pecados, inclusive o próprio pecado contra o Espírito Santo. Daí, portanto, eu raciocino da seguinte forma:

Se cada homem por natureza carece de justiça original e é também propenso a todo mal, então ele carece de livre-arbítrio natural para querer aquilo que é verdadeiramente bom.

Mas todo homem, por natureza, carece de justiça original e é também propenso a todo mal.

Logo, todo homem carece naturalmente de livre-arbítrio para querer o que é bom.

Segunda Razão
1 Coríntios 2:14: “O homem natural NÃO PERCEBE as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucura, nem pode conhecê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Nestas palavras, São Paulo estabelece os seguintes pontos:

(I) Que o homem natural não pensa sequer nas coisas reveladas no Evangelho.

(II) Que, ao ouvir e conceber mentalmente essas coisas, o homem não pode dar seu consentimento a elas, nem, por julgamento natural, aprová-las; pelo contrário, ele as considera loucura.

(III) Que ninguém pode dar assentimento às coisas de Deus, a menos que seja iluminado pelo Espírito de Deus. E, assim, raciocino da seguinte maneira:

Se um homem, por natureza, não conhece e percebe as coisas de Deus e, ao conhecê-las, não pode naturalmente dar assentimento a elas, então ele não tem poder para desejá-las.

Mas o primeiro ponto é evidentemente verdadeiro. Logo.

Primeiro, a mente deve aprovar e dar assentimento antes que a vontade possa escolher ou desejar; e quando a mente não tem poder para conceber nem dar assentimento, então a vontade não tem poder para desejar.

Terceira Razão
O Espírito Santo afirma em Efésios 2:1 e Colossenses 2:13 que todos os homens por natureza estão mortos em pecados e transgressões; não como dizem os papistas, fracos, doentes ou meio mortos. Daí eu deduzo que o homem não possui poder natural, não para desejar simplesmente, mas para desejar livre e espontaneamente aquilo que é verdadeiramente bom. Um homem morto em sua sepultura não pode mexer o mínimo dedo, pois lhe falta o próprio poder de vida, de senso e de movimento; da mesma forma, aquele que está morto em pecado não pode desejar o mínimo bem; se ele pudesse desejar ou fazer algum bem, não poderia estar morto em pecado. E, assim como um homem morto na sepultura não pode se levantar, exceto pelo poder de Deus, aquele que está morto em pecado só pode se levantar pelo poder da graça de Deus, sem qualquer poder próprio.

Quarta Razão
Na conversão e salvação de um pecador, a Escritura atribui tudo a Deus e nada ao livre-arbítrio do homem. João 3:3: “A não ser que um homem nasça de novo, não pode ver o reino de Deus”. Efésios 2:10: “Somos feitura dele, CRIADOS em Cristo Jesus para boas obras”. E em Efésios 4:24: “o novo homem é CRIADO à imagem de Deus”. Ora, nascer de novo é uma obra de importância não menor do que a nossa primeira criação; e, portanto, deve ser inteiramente atribuída a Deus, assim como nossa criação. De fato, Paulo em Filipenses 2:12-13 exorta os filipenses a trabalharem por sua salvação com temor e tremor, sem a intenção de atribuir a eles um poder de fazer o bem por conta própria. E, assim, no versículo seguinte, ele acrescenta: “É Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar”, excluindo diretamente todo livre-arbítrio natural nas coisas espirituais; e, ainda assim, ele reconhece que a vontade do homem tem um papel em fazer o que é bom, não por natureza, mas por graça. Pois, quando Deus dá ao homem o poder de querer coisas boas, então ele pode desejá-las; e, quando Ele lhe dá o poder de fazer o bem, então ele pode fazê-lo e o faz. Pois, embora não haja uma cooperação natural da vontade do homem com o Espírito de Deus na conversão, há uma cooperação sobrenatural pela graça, capacitando o homem, quando está prestes a ser convertido, a desejar sua conversão; e, segundo isso, São Paulo diz em 1 Coríntios 15:10: “Trabalhei mais abundantemente do que todos eles”; mas, para que alguém não imagine que isso foi feito por algum poder natural, ele acrescenta: “todavia, não eu, mas a graça de Deus que está em mim”, capacitando minha vontade a fazer o bem que faço.

Quinta Razão
O julgamento da antiga Igreja.

Agostinho
A vontade do regenerado é acesa apenas pelo Espírito Santo: para que eles possam, portanto, ser capazes porque querem; e eles querem, porque Deus OPERA NELAS O QUERER (Agostinho, De correptione et gratia, capítulo 12). E, “Perdemos o nosso livre-arbítrio para amar a Deus pela grandeza do nosso pecado” (Epístola 105).

Fulgêncio
(Sermão 2 sobre as palavras do Apóstolo). Quando foi criado, o homem recebeu uma grande força em seu livre-arbítrio; mas, ao pecar, ELE O PERDEU (Fulgêncio, Livro sobre a Graça).

Deus concede graça livremente aos indignos, pela qual o homem perverso, sendo justificado, é iluminado, COM O DOM DA BOA VONTADE e com a FACULDADE DE FAZER O BEM: para que, por misericórdia preveniente, ele possa COMEÇAR A QUERER BEM, e por misericórdia subsequente, ele possa fazer o bem que quer.

Bernardo
Bernardo diz: “É INTEIRAMENTE PELA GRAÇA DE DEUS que somos criados, curados, salvos” (Concílio de Orange II, capítulo 6). “Crer e querer é DADO de cima por INFUSÃO e inspiração do Espírito Santo” (Bernardo, Livro sobre o Livre-arbítrio).

Outros testemunhos e razões poderiam ser apresentados para provar essa conclusão, mas estes serão suficientes. Agora vamos ver quais razões são alegadas em contrário.

Objeções dos Papistas Respondidas

Objeção 1
Primeiro, eles alegam que o homem, por natureza, pode fazer aquilo que é bom, e, portanto, quer o que é bom; pois ninguém pode fazer o que ele nem quer nem pensa em fazer, mas primeiro ele deve querer e depois fazer. Agora (dizem eles), os homens podem fazer o bem por natureza, como dar esmolas, dizer a verdade, fazer justiça e praticar outros deveres de virtude civil; e, portanto, desejam o que é bom.

Resposta
Um homem natural pode fazer boas obras no que diz respeito à substância do ato externo, mas não em relação à bondade do modo; estes são dois aspectos diferentes. Um homem sem graça sobrenatural pode dar esmolas, fazer justiça, dizer a verdade, etc., que são coisas boas consideradas em si mesmas, conforme ordenado por Deus; mas ele não pode fazê-las bem. Pensar coisas boas e fazer coisas boas são obras naturais; mas pensar coisas boas de uma boa maneira, e fazê-las bem, de modo que Deus aceite a ação realizada, são obras da graça. E, portanto, a boa ação realizada por um homem natural é pecado, em relação ao seu autor; porque ela falha tanto em sua origem correta, que é um coração puro, uma boa consciência e uma fé não fingida, quanto em seu objetivo, que é a glória de Deus.

Objeção 2
Deus ordenou a todos os homens que creiam e se arrependam; portanto, eles têm livre-arbítrio natural, pelo qual (sendo ajudados pelo Espírito de Deus) podem crer e se arrepender.

Resposta
Essa razão não é válida; pois, com tais mandamentos, Deus não mostra o que os homens são capazes de fazer, mas o que eles devem fazer, e o que não conseguem fazer. Além disso, a razão não está bem formulada; ela deveria ser assim: Porque Deus ordena aos homens que se arrependam e creiam, portanto eles têm o poder de se arrepender e crer, seja por natureza ou pela graça: e então concordamos com eles. Pois, quando Deus no Evangelho ordena aos homens que se arrependam e creiam, ao mesmo tempo, por Sua graça, Ele os capacita tanto a desejar crer e arrepender-se, como a realmente arrepender-se e crer.

Objeção 3
Se o homem não tem livre-arbítrio para pecar ou não pecar, então ninguém deve ser punido por seus pecados, porque ele peca por uma necessidade inevitável.

Resposta
A razão não é válida; pois, embora o homem não possa deixar de pecar, a culpa está nele mesmo, e, portanto, ele deve ser punido; assim como um falido não é, por isso, liberado de suas dívidas, porque não é capaz de pagá-las; mas as dívidas contra ele continuam em vigor, pois a dívida ocorreu por sua própria falha.

Objeção 4
Eles alegam que as ações dos homens após a queda não podem ser boas nem más, a menos que tenham algum tipo de liberdade ou vontade espontânea. No entanto, os papistas argumentam que, se todas as nossas ações são forçadas, então nenhuma pode ser considerada boa ou má.

Resposta
Respondemos que, de fato, as ações dos homens podem ser boas ou más sem essa liberdade absoluta. Pois, conforme as Escrituras, todos os atos humanos após a queda são inclinados ao mal, e a regeneração de uma pessoa pelo Espírito Santo transforma sua disposição, de modo que seus atos, por essa nova natureza, se inclinam ao bem.

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#01 Separação de Roma Ordenada nas Escrituras

E ouvi outra voz do céu, dizendo: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Apocalipse 18:4

No capítulo anterior, São João apresenta uma descrição da prostituta da Babilônia, e isso de forma ampla, como a viu em uma visão que lhe foi descrita. No décimo sexto versículo do mesmo capítulo, ele prediz sua destruição; e, nos três primeiros versículos deste décimo oitavo capítulo, ele continua a expor essa destruição de maneira ainda mais direta e clara, apresentando, ao mesmo tempo, argumentos para prová-la em todos os versículos seguintes. Agora, neste quarto versículo, é feita uma advertência para alertar todo o povo de Deus, para que possam escapar do julgamento que recairá sobre a prostituta; e as palavras contêm duas partes: um mandamento e uma razão.

O mandamento: “Sai dela, povo meu”, ou seja, da Babilônia.

A razão: derivada do evento, para que não sejais participantes das suas pragas. Em relação ao mandamento, primeiro vou buscar o significado correto dele e, em seguida, expor seu uso e a doutrina que dele flui.

O Significado Correto do Mandamento

Na história, portanto, são mencionadas três Babilônias: uma é a Babilônia da Assíria, situada no rio Eufrates, onde ocorreu a confusão das línguas e onde os judeus estavam em cativeiro, sendo esta Babilônia repreendida nas Escrituras por idolatria e outras iniquidades. A segunda Babilônia está no Egito, às margens do rio Nilo, e agora é chamada de Cairo; é mencionada em 1 Pedro 5:13 (segundo alguns pensam), embora, de fato, seja mais provável e comumente acreditado que ali se refere à Babilônia da Assíria. A terceira Babilônia é mística, da qual a Babilônia da Assíria era um tipo e figura; e essa é Roma, que sem dúvida é o que se deve entender aqui. E a prostituta da Babilônia, como se pode deduzir de todas as circunstâncias, é o estado ou governo de um povo que são os habitantes de Roma e a ela pertencem.

Isso pode ser comprovado pela interpretação do Espírito Santo: pois no último versículo do capítulo 17, a mulher que é a prostituta da Babilônia é dita ser uma cidade que reina sobre os reis da Terra; agora, nos dias em que São João escreveu este livro do Apocalipse, não havia cidade no mundo que governasse sobre os reis da Terra, exceto Roma, que era então o local onde o imperador exercia sua autoridade imperial. Além disso, no sétimo versículo, ela é dita estar sentada sobre uma besta que tem sete cabeças e dez chifres, sendo as sete cabeças sete colinas (versículo 9), sobre as quais a mulher está sentada, e também representam sete reis. Portanto, a prostituta da Babilônia significa uma cidade situada sobre sete colinas. Agora, é bem sabido, não apenas pelos estudiosos da Igreja de Deus, mas até pelos próprios pagãos, que somente Roma é a cidade construída sobre sete colinas distintas (chamadas Caelius, Aventinus, Esquilinus, Tarpeius ou Capitolinus, Viminalis, Palatinus, Quirinalis). Os papistas, para se defenderem, alegam que a antiga Roma ficava sobre sete colinas, mas agora foi transferida para a planície de Campus Martius. Respondo que, embora a maior parte da cidade, em termos de habitação, não esteja agora sobre as sete colinas, em termos de governo e prática religiosa, está: pois, mesmo hoje, sobre essas colinas estão situadas certas igrejas e mosteiros e outros lugares onde a autoridade papal é exercida; e, assim, Roma, representando um estado e governo, ainda hoje permanece sobre as sete colinas. E, embora tenha acontecido que a prostituta em seus últimos dias tenha mudado de sede, em relação aos seus primeiros tempos, quando foi criada e nasceu, ela estava sobre as sete colinas.

Outros, porque temem ferir suas próprias cabeças, esforçam-se para dar a essas palavras outro significado, e dizem que por “prostituta” se entende o conjunto de todos os homens ímpios no mundo, onde quer que estejam, sendo o diabo a cabeça deles. Mas essa interpretação é totalmente contrária ao texto: pois, no segundo versículo do capítulo 18, ela é oposta aos reis da Terra, com os quais é dito que cometeu fornicação; e, no último versículo, ela é chamada de cidade situada sobre sete colinas e que reina sobre os reis da Terra (como já mencionei); e, portanto, deve ser necessariamente um estado de homens em algum local particular. E os próprios papistas, percebendo que essa interpretação não lhes serve, fazem duas Romas: a Roma pagã, e aquela da qual o Papa é o chefe; agora (dizem eles), a prostituta mencionada é a Roma pagã, que era governada por tiranos cruéis, como Nero, Domiciano e outros; e que a Roma da qual o Papa é chefe não é a que está mencionada aqui. Eis uma distinção vã e tola: pois a Roma Eclesiástica, em termos de estado, domínio régio e crueldade em perseguir os santos de Deus, é toda igual ao Império pagão; a sede do bispo sendo transformada na corte do imperador, como mostram todas as histórias.

Mas deixemos que a distinção seja como eles supõem; ainda assim, por suas concessões, aqui por “prostituta” deve-se entender não apenas a Roma pagã, mas também a Roma papal ou eclesiástica: pois, no versículo 3 deste capítulo, o Espírito Santo diz claramente que ela embebedou todas as nações com o vinho da ira de sua fornicação; e é acrescentado que ela cometeu fornicação com os reis da Terra, pelo que se entende que ela se esforçou para envolver todas as nações da Terra em sua idolatria espiritual e levar os reis da Terra para sua religião. Essa descrição não pode ser entendida como referente à Roma pagã, pois esta permitia que todos os reis da Terra mantivessem suas próprias religiões e idolatrias; e eles também não se esforçaram para trazer reis estrangeiros a adorarem seus deuses. Além disso, no capítulo 18, versículo 16, é dito que os dez chifres, que representam dez reis, odiarão a prostituta e a deixarão desolada e nua, o que não pode ser entendido como referindo-se à Roma pagã, mas sim à Roma papal; pois, enquanto em tempos passados todos os reis da Terra se submetiam à prostituta, agora eles começaram a se retirar dela e deixá-la desolada, como o rei da Boêmia, Dinamarca, Alemanha, Inglaterra, Escócia e outras partes; portanto, essa distinção também é fútil.

Eles ainda alegam que a prostituta da Babilônia está embriagada com o sangue dos santos e mártires (Ap 17:6), que não foi derramado em Roma, mas em Jerusalém, onde o Senhor foi crucificado, e onde os dois profetas mortos jazem nas ruas (Ap 11:8). Mas este lugar não se refere a Jerusalém, como ensina completamente Jerônimo, mas pode ser bem entendido como referindo-se a Roma: Cristo foi crucificado lá, ou porque a autoridade pela qual Ele foi crucificado vinha do Império Romano, ou porque Cristo em Seus membros foi e é lá diariamente crucificado, embora, em Sua pessoa física, Ele tenha sido crucificado em Jerusalém. E assim, apesar de tudo o que foi dito, devemos entender aqui por “prostituta” o Estado e o Império de Roma, não tanto sob os imperadores pagãos, mas sob o chefe atual, o Papa; o que, além da autoridade do texto, tem o favor e a defesa de homens antigos e eruditos. Bernardo diz: “Eles são ministros de Cristo, mas servem ao Anticristo”.

Além disso, a besta mencionada no Apocalipse, à qual é dada uma boca para falar blasfêmias e fazer guerra contra os santos de Deus, agora se senta na cadeira de Pedro, como um leão preparado para sua presa. Dir-se-á que Bernardo fala essas últimas palavras de alguém que chegou ao Papado por intrusão ou usurpação. É verdade, de fato; mas por que ele era um usurpador? Ele dá a razão disso no mesmo lugar: porque o Antipapa chamado Inocêncio foi escolhido pelos reis da Alemanha, França, Inglaterra, Escócia, Espanha, Jerusalém, com o consentimento de todo o clero e povo dessas nações, e o outro não. E assim, Bernardo deu seu veredicto de que não apenas esse usurpador, mas todos os Papas de muitos anos até agora são a besta do Apocalipse; porque agora eles são escolhidos apenas pelo colégio dos Cardeais. Com isso concorda o decreto do Papa Nicolau II, de 1059, de que o Papa deve ser eleito pelos votos dos bispos cardeais de Roma, com o consentimento do resto do clero e povo, e do próprio Imperador; e todos os Papas são excomungados e amaldiçoados como Anticristos, se entrarem de outra forma, como fazem todos agora. O Abade Joachimus disse: “O Anticristo há muito nasceu em Roma e será ainda mais elevado na Sé Apostólica”. Petrarca disse: “Um dia Roma, agora Babilônia”. E Irineu, no livro 5, capítulo final, disse antes de todos eles, que o Anticristo deveria ser Lateinus, um romano.

O Uso

Novamente, este mandamento não deve ser entendido tanto como uma partida física, em relação à coabitação e presença, mas como uma separação espiritual, em relação à fé e religião. E o significado do Espírito Santo é que os homens devem se afastar da Igreja Romana em termos de julgamento e doutrina, em termos de sua fé e adoração a Deus.

Assim, então, vemos que as palavras contêm um mandamento de Deus, ordenando que Sua Igreja e Seu povo façam uma separação de Babilônia. Daí observo que todos os que querem ser salvos devem se afastar e separar-se da fé e da religião da atual Igreja de Roma. E quanto a serem acusados de cisma por se separarem dessa maneira, a verdade é que eles não são cismáticos ao fazê-lo, pois têm o mandamento de Deus como justificativa; e o partido cismático é aquele em que reside a causa dessa separação, ou seja, na Igreja de Roma, nomeadamente o cálice de abominação na mão da prostituta, que é sua religião herética e cismática.

Vida Cristã

Como o Mundanismo Ministerial Prejudica o Rebanho de Deus

Joel R. Beeke

“Cuidai, pois, de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue”. Atos 20:28

Todos os títulos dados nas Escrituras aos ministros estão dentro dos parâmetros da exortação de Paulo para dar atenção a todo o rebanho. Mas nosso título mais claro e amplo é o de pastor (Ef 4:11). Paulo menciona isso especificamente em Atos20:28, “Apascenta (literalmente, ‘seja um pastor para’) a igreja de Deus.”

Ovelhas são criaturas únicas. Elas estão entre as criaturas mais dependentes e tolas da Terra. Elas são propensas a vagar. Elas deixarão pastos ricos por pastos estéreis, e então não conseguirão encontrar o caminho de volta. E elas têm vontades teimosas, até o ponto de lutar contra aquelas pessoas e aquelas medidas que serviriam aos seus melhores interesses.

Sem a orientação de um pastor, as ovelhas se destruirão de uma forma ou de outra. Sem um pastor, as ovelhas não podem se alimentar, se defender de ataques ou se tratar quando feridas. Sem seu pastor, as ovelhas não podem fazer nada.

Pastorear a igreja de Deus é uma tarefa incrível. Baseado no Salmo 23, aqui está o que devemos cultivar como pastores:

  • Precisamos de um coração de pastor que bata com amor incondicional pelo rebanho de Deus.
  • Precisamos da mão de um pastor para guiar as ovelhas de Deus nos caminhos da justiça e afastá-las do pecado.
  • Precisamos do olhar de um pastor para proteger nossas ovelhas dos predadores e detectar seus desvios.
  • Precisamos do ouvido de um pastor para ouvir seus gritos de angústia.
  • Precisamos do conhecimento de um pastor para conhecer suas doenças, alegrias, tristezas, pontos fortes e fracos.
  • Precisamos da habilidade de um pastor para conduzi-los a pastos que atendam às suas necessidades e dar-lhes o remédio certo para suas enfermidades.
  • Precisamos da fidelidade de um pastor para permanecer com eles em tempos de necessidade.
  • Precisamos da força de um pastor para usar a vara da Palavra de Deus para guiá-los de volta aos caminhos certos e usar o cajado para ajudá-los nas dificuldades, sempre apontando-os para o Bom e Supremo Pastor, Jesus Cristo.

Cada uma dessas qualidades de pastoreio pode ser destruída por um espírito mundano. Como você pode curar os pobres, feridos e de coração partido se seu coração se apega às riquezas mundanas? Como você pode recuperar ovelhas perdidas se você mesmo está se perdendo no mundo? Como você pode conhecer as fraquezas, tentações, forças e dons do rebanho se você ama as coisas deste mundo mais do que o povo de Deus?

Ministros mundanos deixam as ovelhas famintas em vez de alimentá-las. Veja como:

  • A mundanidade promove o profissionalismo. A mundanidade transforma o ministério em uma carreira ou mero emprego. Pregação, evangelismo, aconselhamento e visitação não são mais feitos sob a restrição do chamado divino. As tarefas ainda são feitas, mas de forma rotineira e obediente, vazias de um senso do chamado do Espírito.

Clérigos profissionais muitas vezes se alimentam de seu profissionalismo. Eles amam o que Spurgeon chamou de “ministerialismo” mais do que o ministério. Eles são púlpitos em vez de pregadores, atores em vez de aplicadores, egocêntricos em vez de centrados em Deus. Eles confiam em suas próprias habilidades em vez de olhar para Cristo e Seu Espírito.

No final, seu profissionalismo destruirá as ovelhas, pois as ovelhas precisam de um pastor pessoal e atencioso. Não devemos pensar em nossas igrejas como estações de trabalho e nossos paroquianos como casos; em vez disso, devemos pensar em nossas igrejas como hospitais onde pessoas feridas encontram cuidado amoroso e terno. Como Jesus, devemos sofrer com nossas ovelhas. Podemos evitar a armadilha do profissionalismo somente amando o Senhor da igreja, Seu povo e a obra que Ele nos chamou para fazer. Como Spurgeon disse: “Nunca economizaremos mais até que amemos mais.”

Ouça o que Horatius Bonar disse sobre profissionalismo: “O amor está faltando, amor profundo, amor forte como a morte, amor tal como fez Jeremias chorar em lugares secretos pelo orgulhode Israel. Na pregação e na visita, no aconselhamento e na reprovação, que formalidade, que frieza, quão pouca ternura e afeição!”

  • A mundanidade promove a petrificação. No ministério, ou se vive e cresce ou se decompõe e se petrifica. Não importa quão experiente seja um pastor, ele deve continuar crescendo espiritual e intelectualmente. A mundanidade impede esse crescimento. Ela impede que os ministros vivam no limite do crescimento. O apóstolo Paulo pretendia nunca parar de crescer. Enquanto estava na prisão, esperando o machado do carrasco, Paulo pediu a Timóteo que trouxesse seus “livros e pergaminhos” (2 Timóteo 4:13) para que ele pudesse continuar seus estudos.

Uma maneira de evitar a petrificação é trabalhar em vários níveis. Por exemplo, ensine e escreva abaixo do seu nível em algum ministério para crianças. Ao mesmo tempo, pregue, ensine e escreva no seu nível atual. Então, também, estique e cresça estudando material acima do seu nível.

Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar nosso tempo ou dar lugar à preguiça. Devemos orar muito, meditar frequentemente e estudar muito. Devemos ler os melhores livros e aprender a usá-los proveitosamente. Devemos organizar cada hora do nosso tempo, mas permanecer flexíveis para responder às necessidades do nosso povo. Devemos lembrar dos três D’s: descartar a papelada desnecessária, delegar tudo o que pudermos e lidar com cada item apenas uma vez.

O diário de George Whitefield diz que ele estava de joelhos chorando por ter desperdiçado trinta minutos em um dia, embora notemos de passagem que não é perda de tempo refrescar nossas mentes e corpos com descanso sazonal e recreação saudável. Na visão dos teólogos de Westminster, o Sexto Mandamento exige que façamos uso moderado e “sóbrio de carne, bebida, medicina, sono, trabalho e recreações” (Catecismo Maior, Perguntas 135- 136).

  • O mundanismo promove um ministério focado no prazer. Quando um ministro fala mais sobre esportes do que sobre Cristo, passa mais tempo com um jornal do que com a Bíblia, mais tempo navegando na Internet do que em oração, mais tempo acumulando bens materiais do que promovendo o bem-estar das almas de seu rebanho, sua busca por prazeres minará seu ministério. No final do dia, o homem que se concentra mais em prazeres temporários do que em disciplinas piedosas pode muito bem sucumbir ao alcoolismo, adultério ou algum outro pecado da carne. Em todos os casos, as ovelhas são as perdedoras. Podemos esperar que o nível de santidade do rebanho se eleve acima do de seu pastor terreno?

Precisamos evitar toda forma de materialismo. Nossas casas, carros, móveis, bens e roupas não devem se tornar fins em si mesmos. Não é certo que um ministro “ande em vão” (cf. Sl 39:6). Se pregarmos ao nosso povo que eles não devem colocar seus corações em coisas terrenas enquanto nosso estilo de vida mostra que nós mesmos o fazemos, nosso ministério perde credibilidade.

Nossa conversa diária também não deve se concentrar muito em coisas terrenas. Se dissermos às pessoas que “da abundância do coração, a boca fala”, e nossa conversa se concentrar mais em posses e buscas terrenas do que em nossa herança celestial, nosso ministério perde credibilidade. Qualquer coisa que façamos ou digamos que coloque o prazer terreno em primeiro lugar e o serviço divino em último lugar destrói a eficácia do nosso ministério.

O materialismo é perigoso porque é a prática da cobiça. A cobiça nos governa de dentro. É como uma enchente que rompe as margens de nossos corações e transborda em nossas vidas, causando destruição. A cobiça esquece que a felicidade não consiste em coisas, mas em pensamentos. Não deixe que dinheiro, posses e desejos carnais se tornem mais importantes para você do que a utilidade para Deus e Seu povo. Tal cobiça o esvaziará e diminuirá. Ela azedará seu gosto pelo ministério.

Deus odeia a cobiça porque ela o exclui, insulta e nos insensibiliza. Irmãos no ministério, vamos crucificar a cobiça e andar de forma digna de nossa vocação. Não pense no ministério em termos de salário, mas como um investimento espiritual que oferece dividendos eternos. Como Paulo, vamos aprender a ser humilhados e a abundar em contentamento.

Não cobice os dons de ninguém. Use os talentos que Deus lhe deu. Quando Robert Murray M’Cheyne visitou Israel, Deus usou William Burns para inaugurar o reavivamento na igreja de M’Cheyne. M’Cheyne ficou tão feliz com o reavivamento como se ele próprio o tivesse liderado. Ele se alegrou com os dons de Burns. Ele seguiu o caminho mais excelente de Deus em vez dos caminhos cobiçosos deste mundo. “Por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3).

Finalmente, não cobice mulheres, e especialmente as esposas de outros homens. Ande circunspectamente. Ore diariamente para ser guardado da tentação. Apoie-se na força do Espírito. Agradeça a Ele por preservá-lo removendo o desejo quando a tentação estava presente e removendo a tentação quando o desejo estava presente. Recuse-se a se envolver em qualquer forma de flerte. A melhor maneira de evitar a cobiça é cultivar um casamento excelente com sua esposa e mostrar sua devoção sincera a ela. Poucas mulheres tentarão flertar com você quando virem o quão dedicado você é à sua esposa. Pense nestas palavras de Isaías: “Sede limpos, vós que levais os vasos do SENHOR” (52:11). E lembre-se desta oração de um pastor:

Eu seria verdadeiro, pois há aqueles que confiam em mim; eu seria puro, pois há aqueles que se importam; eu seria forte, pois há muito a sofrer; eu seria corajoso, pois há muito a ousar.

Lembre-se também do que Jesus disse aos Seus discípulos: “Vigiai e orai, para que não caiais em tentação.” É como se Jesus dissesse: “Eu vos treinei. Vocês testemunharam o Meu exemplo. Mas não pensem que, porque foram matriculados no melhor seminário da Terra, vocês estão além da tentação. Vigiai e orai.”

Vigilância, oração e leitura diária da Bíblia são os melhores antídotos para a tentação. Poucos ministros caíram mantendo essas disciplinas espirituais. Leve a sério o aviso de Abraham Booth: “Embora eu tenha tido uma parcela maior de estima entre pessoas religiosas do que eu tinha qualquer razão para esperar; ainda assim, afinal, é possível para mim, em uma única hora de tentação, destruir meu caráter, arruinar minha utilidade pública e fazer com que meus amigos cristãos mais calorosos se envergonhem de me reconhecer. Sustenta-me, ó Senhor, e estarei seguro!”

  • O mundanismo promove a frivolidade. Ministros que não têm sobriedade e não transmitem nenhuma atitude de seriedade sobre a vida, o julgamento vindouro e a eternidade, criam ao redor de si uma atmosfera que extingue o temor de Deus. Eles instilam em seu povo uma atitude de complacência e indiferença, deixando-os adormecidos e inconscientes da aproximação do perigo.

Há um lugar para o humor no ministério, especialmente em conversas privadas. Um ministro não deve ser triste, enfadonho e antissocial. Mas o humor deve ser mantido dentro dos limites e nunca deve degradar-se em algo sugestivo ou indecente (Ef. 4:29; cf. Ef. 5:12). Uma conversa séria e piedosa deve ser o coração de cada visita que fazemos. E cada visita deve ser temperada com oração. Seja como James Hervey, que resolveu “nunca entrar em nenhuma companhia, onde não pudesse obter acesso para seu Mestre”.

Considere o que Thomas Boston disse: “Quando você estiver em qualquer momento em companhia, deixe algo que cheire a céu cair de seus lábios. Aprenda a química celestial de extrair algo espiritual das coisas terrenas. Oh, que vergonha é para você se sentar em companhia, e se levantar novamente, e se separar deles, e nunca uma palavra de Cristo ser ouvida.” Se nossa conversa não for governada por uma sobriedade calorosa e atenciosa, o espírito da conversa mundana inevitavelmente prevalecerá. E a conversa mundana é dominada, como diz Charles Bridge, “pelo medo do homem, indulgência carnal e descrença prática.” Não há lucro em multiplicar palavras sem conhecimento (Jó 35:16).Não podemos edificar aqueles confiados aos nossos cuidados se apenas os envolvermos em conversas mundanas. Desonraremos o Espírito ao deixar de falar de Sua obra na alma, e não devemos nos surpreender quando, no devido tempo, qualquer demanda por conversa piedosa e vida piedosa for ridicularizada como legalismo.

  • O mundanismo promove a indiferença. Como alguns médicos que veem os pacientes como números, alguns ministros tratam as pessoas como objetos a serem manipulados em vez de almas a serem salvas. Esses ministros são carentes de oração, preguiçosos na preparação de sermões, ineficazes na pregação e negligentes na visitação pastoral.

Recentemente, um pastor visitou uma pessoa no hospital em resposta ao pedido de um parente. Depois de visitá-la, ele leu as Escrituras com ela, comentou brevemente sobre elas e encerrou com uma oração. Quando ele se despediu, a mulher chorou e disse: “Meu pastor veio também, mas ele falou mais sobre si mesmo e sobre o clima do que sobre minha condição. Ele não leu as Escrituras, não falou sobre o Senhor, e sua oração foi curta e superficial. Vocês acham que ele se importa com minha alma?

Irmãos, se não vamos pastorear nosso povo com nossas mentes e corações, devemos deixar o ministério. Um pastor indiferente é um mercenário, não um pastor. Horatius Bonar descreveu bem tais homens: “Associando-nos muito e muito intimamente com o mundo, nós nos acostumamos em grande medida aos seus costumes. Daí nossos gostos terem sido viciados, nossas consciências embotadas, e aquela ternura sensível de sentimento que, embora não recue do sofrimento, mas recue do contato mais remoto com o pecado, se desgastou e deu lugar a uma quantidade de insensibilidade da qual nós, outrora, em dias mais frescos, acreditávamos ser incapazes.”

“Deus salva todos os tipos de pessoas, até mesmo ministros”, escreveu John Kershaw, um pastor batista do século XIX. Embora o ministério tenda a isolar um pastor das atrações do mundo, um dos maiores perigos do ministério é que ele permite que um pastor manuseie o sagrado com tanta frequência que se torna banal para ele. É verdade que podemos manusear a Palavra de Deus como se não fosse nada mais do que as palavras dos homens. Podemos tomar o que é santo como garantido enquanto vivemos vidas profanas. Podemos incitar outros à santidade, mas, como os fariseus, não nos mover um centímetro nessa direção. Eventualmente, operamos nossos ministérios mais por indiferença e descrença do que por fé.

Tome cuidado, irmãos, pois a indiferença é o fruto da mundanidade. Ela nos torna frios em nossa pregação, preguiçosos em nossas visitas, irreverentes em lidar com realidades eternas e negligentes em todos os nossos deveres sagrados.

Não se deixe vencer por um espírito mundano e incrédulo. Lembre-se de que tudo o que você diz é filtrado pela grade da mente do nosso povo. Se o registro cumulativo de tudo o que eles sabem sobre você indica mais mundanismo do que piedade, nossas ovelhas se sentirão famintas, mesmo enquanto se alimentam de todas as nossas mensagens.

Não podemos amar a Deus e ao mundo. Não podemos servir a dois senhores. Como podemos nós, como ministros, manter nossa integridade espiritual, nosso amor a Deus, nossos corações pastorais e nossa caminhada piedosa se secretamente flertamos com o mundo? Como podemos viver como um peregrino e um peregrino quando ansiamos mais pela terra do que pelo céu?

Preste atenção ao rebanho. Alimente a igreja com a Palavra; não a deixe passar fome com mundanismo. Preste atenção ao aviso de Thomas Scott: “O ministro que não quer que seu povo ceda à conformidade mundana, tal como ele desaprova, deve manter-se a uma distância considerável. Se ele anda perto da beira do abismo, outros cairão no precipício.”

Devocionais

POR QUE VOCÊ ESTÁ RESPIRANDO?

Por Carlos Costa

Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor. Salmo 150.6

A cada inspiração que você inspira, o oxigênio do ar sai dos pulmões para a corrente sanguínea. Ao mesmo tempo, o dióxido de carbono sai desses rios escuros e silenciosos e entra nas cavernas dos pulmões. A partir daí, ele volta para o mundo. Você faz isso cerca de 20.000 vezes por dia, cerca de 8 milhões ou mais por ano.


Em algum momento, você sabe que isso vai parar. Você provavelmente ainda não aceita isso. Muitas pessoas não o fazem, penso eu, até estarem às portas da morte, olhando para trás, para o sonho surreal da vida, perguntando-se como tal coisa poderia realmente acabar. Mas pelo menos em teoria você sabe que isso vai acontecer. Se tudo vai acabar, então qual é o propósito agora?


Um renomado teólogo judeu, disse certa vez: “É a gratidão que engrandece a alma”. Imagine que você está em um perigo extremo. Você caiu em águas profundas e a corrente está puxando você contra sua vontade. Você se debate e se debate na água e começa a sentir que está afundando, incapaz de recuperar o controle, incapaz de respirar. Então, de repente, você sente os braços de alguém ao seu redor, assumindo o controle e puxando você para a superfície, puxando-o para um local seguro. Imagine o quão grato você se sentiria. Momentos antes, você não conseguia nem respirar – e agora pode respirar. Sua vida foi poupada.


A verdade é que a cada segundo de cada dia Deus nos dá ar para respirar e nos permite viver mais um dia. Respirar é algo que quase todo mundo considera natural. É a primeira coisa que fazemos quando nascemos e a última coisa que fazemos quando morremos. Fazemos isso mesmo quando estamos dormindo ou quando não estamos pensando nisso.
O Salmo 150, o último salmo, trata de louvar a Deus e ser grato. A última linha diz: “Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor! [Aleluia!].

GRAÇAS A DEUS POR CADA RESPIRAÇÃO

A palavra hebraica para respiração é ???????? (neshamah), a mesma palavra para “a alma”. Em outras palavras, a alma, a vida que Deus soprou nas narinas de Adão, o sopro que continua através de cada pessoa viva até hoje, é razão suficiente para louvar a Deus. A mensagem de despedida do Rei Davi para nós é para sermos gratos por tudo o que temos, começando pela capacidade de respirar a cada dia.


O Livro dos Salmos trata principalmente de louvar a Deus por nossas bênçãos ou de orar a Deus para nos resgatar em tempos difíceis. Para a maioria de nós, o louvor e o agradecimento a Deus acontecem quando recebemos alguma bênção óbvia, como ser curado de uma doença, ou quando somos abençoados materialmente além de nossas expectativas. E essa é uma resposta muito apropriada e natural.


A maioria de nós considera a respiração algo trivial, mas apenas alguns minutos sem respirar e perderíamos a consciência. Pouco depois, a morte seria uma realidade.

Jó registra que o Senhor tem em Suas mãos “a vida de todos os seres viventes e o fôlego de toda a humanidade” (Jó 12:10). Ele nos dá o dom de inspirar e expirar todos os dias para que possamos honrá-Lo e glorificá-Lo com nossas vidas (Isaías 43:7; Mateus 5:16; 1 Coríntios 6:19-20).


A cada inspiração de oxigênio, devemos exalar louvor ao nosso Criador, Aquele que nos deu a respiração em primeiro lugar. No Jardim do Éden, somos informados: “O Senhor soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem tornou-se um ser vivente ” (Gênesis 2:7) .

Cada respiração que respiramos nos é concedida graciosamente por Deus. Mesmo enquanto você lê esta frase, Ele está sustentando sua vida. Parece tão óbvio, mas consideramos cada respiração algo natural, não é?

SE VOCÊ ESTÁ RESPIRANDO, LOUVE AO SENHOR!

Conta-se a história de um pregador que um dia estava ao lado da cama de uma senhora cristã idosa que estava à beira da morte. Ela pediu-lhe que lesse uma Escritura da Bíblia, e quando ele lhe perguntou qual Escritura ela queria que ele lesse, ela disse: “Faça sua própria seleção, pregador, mas que seja de louvor”.

Embora ela estivesse no processo de dar seus últimos suspiros na terra, ela queria que seu testemunho de despedida ecoasse os sentimentos do salmista: “Todo aquele que tem fôlego louve ao Senhor” (Salmos 150:6).

“Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor.” Na verdade, isso é justo, pois o Senhor “Ele mesmo dá a todos vida e fôlego” (Atos 17:25). Como Spurgeon explica: “É assim que vivemos espiritualmente: inspiramos o ar pela oração e expiramos pelo louvor! Esta é a respiração sagrada da vida de um cristão! em hebraico (YHWH) é composto mais por respirações do que por letras, para mostrar que toda respiração vem Dele: portanto, que seja usada PARA Ele.” Wiersbe acrescenta que “o fôlego é a coisa mais fraca que temos, mas podemos dedicá-lo ao serviço mais elevado: louvar ao Senhor”. Portanto, enquanto ainda temos fôlego, vamos continuamente “louvar o nome de Jeová” (Sl 113:1b).


Spurgeon nos exorta perguntando “toda a natureza ao nosso redor não canta? Na verdade, se ficarmos em silêncio, seríamos uma exceção no universo. O trovão não O louva enquanto ressoa como tambores na marcha do Deus dos exércitos? O oceano não O louva ao bater palmas?” O salmista acrescenta: “Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo o que neles se move” (Sl 69:34 ). Na verdade, até mesmo “fogo e granizo, neve e nuvens, ventos tempestuosos” louvam ao Senhor (Sl 148:7-8).


Mas quantos de nós louvamos e agradecemos a Deus pelo dom da respiração, pela própria vida? Já agradecemos a Deus hoje pelo ar que Ele nos permitiu respirar?


O último versículo dos Salmos nos lembra que não importa quão difíceis sejam as circunstâncias, sempre podemos ser gratos pela nossa capacidade de respirar e pelo fato de estarmos vivos. Enquanto vivermos, podemos ter esperança, consertar, mudar e crescer. Quando podemos agradecer a Deus por cada respiração, podemos ser gratos por tudo. Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor.

Soli Deo Gloria!

Vida Cristã

O JARDIM DE TODAS AS VIRTUDES

POR CARLOS COSTA

A sociedade atual não encoraja, celebra ou ensina a verdadeira humildade. A mídia social por si só oferece uma variedade de maneiras de nos vangloriarmos de nossas realizações, diplomas, conquistas, beleza, corpo, bens, viagens e compartilhar tudo o que estamos fazendo e expressar tudo o que pensamos. Não quero dizer que não podemos compartilhar boas notícias ou como Deus está trabalhando em Sua Igreja, mas há uma diferença entre dar glória a Deus e dar glória a nós mesmos.
Não pense que nascemos com humildade e gentileza. A humildade é algo absolutamente indispensável para o cristão. Sem ela, não pode haver conhecimento de si mesmo, nem arrependimento, nem fé, nem salvação. Para João Crisóstomo, “a humildade é o jardim de todas as virtudes”. Já Agostinho disse: “Se me perguntarem qual o primeiro preceito do cristianismo, responderei que o primeiro, o segundo e o terceiro preceito é a humildade”.

Agostinho considerava a humildade central para a fé cristã. Através da experiência de sua busca espiritual durante seus primeiros trinta anos de vida, ele veio a ver claramente que somente uma pessoa com humildade pode seguir a Cristo. Para ele, a humildade era muito mais do que simplesmente uma das muitas virtudes que um cristão deveria praticar. Por causa de sua própria experiência de conversão à religião cristã, Agostinho passou a ensinar que a humildade (o oposto do orgulho) é a virtude cristã básica.


“A verdadeira humildade” — disse alguém — “é um agradável ornamento; ela é o único traje adequado a um pecador salvo!” Oh, esforcemo-nos, portanto, para nos vestirmos com esse manto — para sermos achados em silêncio, sem procurar chamar atenção, aos pés de nosso Criador e Redentor.


Se o orgulho é um mal epidêmico, a humildade é a virtude ameaçada. A humildade é tão rara porque ela não é natural do próprio homem. Somente um verdadeiro cristão, que tem o Espírito de Deus, pode aprender a humildade. “A humildade é a raiz, a mãe, a ama-de-leite, o alicerce e o vínculo de todas as virtudes”, expressou Crisóstomo. Para John Mason, “a mais preciosa pérola na coroa de virtudes do cristão é a humildade”. Humildade é algo pelo qual devemos orar constantemente, mas nunca agradecer a Deus por isso. Nada coloca um cristão tão fora do alcance do diabo quanto a humildade.


Alguém já disse que “a humildade é um paradoxo. No momento em que você pensa que finalmente encontrou, você a perdeu”. Geralmente, quando você descobre que a possui, você a perde. A humildade é como uma flor rara – coloque-a em exposição e ela instantaneamente murcha e perde sua fragrância! A humildade é um traço de caráter que nunca pode surgir de si próprio; não é algo para ser anunciado do alto… não, humildade não é algo para ser anunciado. Pois então, se você consegue imaginar a ironia disso, você ficou orgulhoso de sua humildade.


A humildade é aquela graça pela qual um homem faz pouco ou nenhum caso de si mesmo (Jó 42.6; Ezequiel 20.43). É uma graça do Espírito de Deus, pela qual um homem, a partir do verdadeiro conhecimento de si mesmo, de seu estado e condição, se considera vil e age de acordo diante de Deus e dos homens. Todo homem piedoso é humilde (Provérbios 30.2; Lucas 18.13). A pobreza de espírito é o primeiro passo para o céu (Mateus 5.3). “Alto em valor e humilde de coração”, disse Nazianzeno sobre Atanásio. Todas as estrelas, quanto mais altas são, tanto menores parecem; assim também devem ser todos os santos.


Primislaus, o primeiro Rei da Boêmia, mantinha seus sapatos perto dele para lembrá-lo de onde ele veio. Lemos sobre Agatocles, aquele Rei que era inicialmente filho de um oleiro e posteriormente elevado ao Reino da Sicília, que teria, junto com seu serviço de ouro e prata, recipientes de barro em sua despensa para lembrá-lo de sua condição anterior. Jacó disse: “Sou menos que o menor de todas as tuas misericórdias.” Abraão se chamava “pó e cinza”. Davi se considerava um “cão morto” (1 Samuel 2.4), uma pulga, ou seja, uma pessoa pobre, insignificante, básica, sem valor. Paulo se considerava “o menor de todos os santos” e “o maior dos pecadores” (1 Timóteo 1.15). “Embora eu não seja nada”, disse ele, “e eu seja o menor de todos os apóstolos, não digno de ser chamado apóstolo”.


A humildade tem a promessa de benefícios tanto temporais (Provérbios 22.4) quanto espirituais: graça (Provérbios 3.34), sabedoria (Provérbios 11.4), o temor de Deus e, finalmente, a bem-aventurança (Mateus 5.3).

A HUMILDADE PROCEDE DE DEUS


Deus é a fonte da humildade. Por natureza, o homem é uma criatura que aspira à glória, é orgulhoso e vaidoso e tem pensamentos elevados sobre si mesmo. Ele é motivado por si mesmo, está focado em si mesmo e deseja que o objetivo de todos seja estimá-lo, honrá-lo, temê-lo, servi-lo e obedecê-lo. O coração que o Senhor dá ao seu povo é diferente, porém, porque Ele faz com que Cristo se forme neles, para que, também na humildade, se assemelhem a Cristo.


Assim, a humildade resulta de um julgamento correto de si mesmo. Os humildes reconhecem que são feitos de pó e residem em tabernáculos de barro. Eles sabem que pecaram e destituídos estão da glória de Deus; são cegos, miseráveis, nus e miseráveis, e que são, portanto, abomináveis, odiosos e intoleráveis diante de Deus, dos anjos e dos homens. Eles sabem que não são dignos de que os céus os cubram, que o sol brilhe sobre eles, ou que caminhem sobre a terra, desfrutando da companhia dos homens, tendo um pedaço de pão para comer e tendo roupas para o corpo. Pelo contrário, eles são dignos de terem sido lançados no inferno há muito tempo.


Tal é o julgamento que fazem de si mesmos, e eles concordam com isso – mesmo que isso os condene. Percebem assim como seria errado se elevarem, fingindo que são dignos de alguma coisa. Quando se comparam com os outros, percebem-se como tolos, sem compreensão, com um caráter vergonhoso e difícil, e suas ações como dignas de desprezo. É assim que outros os conheceriam se os conhecessem tão bem internamente como os conhecem externamente. Como eles deveriam então ter pensamentos elevados sobre si mesmos? Eles consideram que outros estariam errados se pensassem algo deles ou desejassem prestar-lhes alguma honra. Eles reconhecem que o bem encontrado neles – do qual estão cientes e altamente—foi dado a eles por outro, a saber, Deus. Visto que isto continua a ser de Deus, eles seriam culpados da maior tolice se cobiçassem honra, amor ou estima por algo que lhes foi emprestado. (Um mendigo atrairia o desprezo se se vangloriasse de uma roupa cara que alguém lhe emprestou por um dia.)

O poema de Theodore Monod (1836-1921), mostra-nos o caminho para o quebrantamento e a morte para o ego.

NADA DO EU, TUDO DE TI!

Ai! Que tempo vergonhoso
Quando altivo resisti,
Ao meu Salvador bondoso
Respondendo desdenhoso:
Quero o Eu, não quero a Ti!

Mas o Seu amor vencia
Quando sobre a Cruz O vi
E Jesus por mim pedia
Já meu coração dizia:
Quero o Eu e quero a Ti!

Com ternura me amparava
Graça e força recebi
Mais e mais eu exultava
Mais humilde segredava:
Menos do Eu e mais de Ti!

Por Seu grande amor vencido
Tudo ao meu Senhor cedi
Ao meu Salvador unido
Esse agora é o meu pedido:
Nada do Eu, só quero a Ti!

Apologética

NÃO SAO DELE

Esses dias atrás estava conversando com um irmão em Cristo sobre Deus e Sua Palavra. Uma senhora estava do lado, só ouvindo, não frequentava nenhum meio Cristão. Depois que terminamos ela comentava o como era gostoso ouvir nossa conversa. No fim, ela disse que queria uma Bíblia.

Em contrapartida, várias pessoas saem de perto quando começamos a falar sobre Deus. Algumas se dizem da igreja, mas quando falamos sobre alguns assuntos contrário ao seu entendimento sobre Deus, dizem: “Religião, política e futebol não se discute” e acabam saindo de fininho do ambiente, não tem prazer ou intenção no crescimento da fé.

Nessas horas eu me lembro de textos como:

Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Jo 10.14–15.

As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Jo 10.25–27.

Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. At 13.48.

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6.44.

É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; Jo 17.9.

VOCÊ É DELE?

Rafael Soletti

Devocionais

CONFORTO EM MEIO À CONFUSÃO

A vida cristã é uma vida de fé. Mais precisamente, a vida cristã é uma vida de fé em Deus. É o objeto da fé que dá brilho à fé, e nada mais enriquece, enobrece e estabelece a fé do que o Deus que fez os céus e a terra, que reina em esplendor incomparável sobre todas as obras de suas mãos. Ao olharmos para um mundo que parece a cada dia estar caindo em espirais intermináveis de violência, um mundo que odeia cada vez mais o evangelho de Cristo e o povo de Cristo, precisamos ancorar nossa fé com mais certeza em quem é nosso Deus.

Para alguns, talvez até para muitos cristãos, a soberania de Deus é uma verdade que os deixa perplexos. Eles se perguntam como, se Deus é realmente soberano, Ele permite a morte e a destruição que tanto marcam a face de nosso mundo. Eles confundem a aparente inadequação da soberania de Deus – seu controle absoluto sobre todas as coisas – e a maldade desenfreada que se espalha por todos os cantos da terra. Para a Bíblia, entretanto, a soberania de Deus é o mais profundo dos confortos. Quando o salmista olhou para o mundo de sua época e viu sua maldade e caos, ele escreveu: “O Senhor reina, regozije-se a terra. . . O Senhor reina; tremam os povos” (Sl 97.1; 99.1). Para o salmista, a soberania de Deus não era um quebra-cabeça que ele tinha que resolver, era um consolo que o inspirava. Ele não tentou decifrar os porquês e os porquês da soberania do Senhor. Ele entendeu que os caminhos de Deus eram mais elevados do que os seus caminhos e que os pensamentos de Deus eram mais elevados do que os seus pensamentos (Isaías 55.9).

Mais do que em qualquer outro lugar, vemos o conforto da soberania de Deus na cruz de Cristo. Quando Pedro proclamou Jesus como o Messias-Salvador de Deus no dia de Pentecostes, ele não estava cego para a maldade que levou os líderes judeus a matarem o Autor da vida, mas ele estava absolutamente certo de que, por trás de todos os eventos que levaram à crucificação de Jesus, Deus estava cumprindo seu plano e propósito pré-determinados: “este Jesus, entregue de acordo com o plano definido e presciência de Deus, vocês crucificaram e mataram pelas mãos de homens iníquos”. Envolvendo, anulando e dirigindo sem pecado todos os assuntos dos homens, Deus cumpriu Seu plano e propósito. Ao olhar para a cruz, o mundo simplesmente viu tragédia, fraqueza e derrota. Quando os próprios discípulos de Jesus olharam para a cruz, eles viram o fim de todas as suas esperanças e fugiram em desordem.

A soberania absoluta e incondicional de Deus nos é revelada nas Escrituras para nosso conforto e segurança. Nunca somos solicitados a resolver intelectualmente a aparente dissonância entre a responsabilidade humana e a soberania divina. Somos solicitados (na verdade ordenados) a viver por fé e não por vista (2 Co 5.7). Confiar em Deus é a essência da vida do crente – confiar que Ele é verdadeiramente bom, que ele é sempre sábio e amoroso, que nunca está ausente da vida e das circunstâncias de seus filhos comprados pelo sangue de Cristo.

Há momentos, talvez até muitos, em que nossas circunstâncias pessoais e familiares parecem contradizer o ensino bíblico de que nosso Deus é soberano. Os salmistas costumam ser extremamente honestos em seus clamores a Deus. Eles nunca fingem que a vida de fé é isenta de dúvidas ou medos. Mas repetidamente eles se consolam ao saber que o Senhor da aliança não é indiferente aos seus clamores nem impotente para atender às suas necessidades. Às vezes, os Salmos terminam com uma segurança renovada. Às vezes terminam com tensões não resolvidas. Mas sempre os salmistas se apegam a Deus e confessam que Ele é o Deus deles.

Vivemos tempos conturbados e turbulentos; o bem é chamado de mal e o mal é chamado de bem. Estamos vivendo como nação as terríveis e imensas consequências de nos afastarmos da verdade de Deus. As coisas podem piorar? Sim, apenas leia sua Bíblia. Mas não importa o quão ruim as coisas fiquem, não importa o quão desenfreadamente a maldade se espalhe por toda a terra, “o Senhor Reina”, então que o povo de Deus se regozije e que a terra trema.

De todas as pessoas, os cristãos devem viver com equilíbrio em meio à maldade prevalecente. Conta-se a história de dois homens caminhando por uma cidade selvagem, após a Segunda Guerra. Ao se aproximarem, pararam e olharam um para o outro. Um dos homens cutucou o outro com o dedo e disse: ‘Qual é o fim principal do homem?’ O homem respondeu: “Glorificar a Deus e desfrutá-lo para sempre”. O primeiro homem respondeu: “Eu sabia que você era um menino do Breve Catecismo pelo modo como você andava!” O caos estava por toda parte, mas esses dois homens andavam com equilíbrio porque sabiam que seu Deus reinava.

Reserve um tempo hoje para ponderar sobre a soberania total do Senhor. Permita que esta verdade informe sua mente e acalme seu coração. Viva pela fé, fé em quem é o nosso Deus, e não por vista.

Autor Anonimo

Devocionais

“…porque Tu estás comigo”.

Salmo 23

“…porque Tu estás comigo”, o Senhor é o meu pastor…
“…porque Tu estás comigo”, me fazes repousar em pastos verdejantes…
“…porque Tu estás comigo”, leva-me para águas de descanso…
“…porque Tu estás comigo”, refrigera-me a alma…
“…porque Tu estás comigo”, guia-me pelas veredas da justiça, por amor de Ti.
“…porque Tu estás comigo”, não temerei mal nenhum, nem mesmo no vale da sombra e da morte…
“…porque Tu estás comigo”, teu bordão e teu cajado me consolam…
“…porque Tu estás comigo”, preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários…
“…porque Tu estás comigo”, unges-me a cabeça com óleo…
“…porque Tu estás comigo”, o meu cálice transborda…
“…porque Tu estás comigo”, sou continuamente seguido pela bondade e a misericórdia…
“…porque Tu estás comigo”, habitarei em Tua Casa para sempre…


…eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século. 

Mt 28.20.

A seu serviço,

Rafael Soletti Martin, Bacharel e Licenciado em Teologia. Membro da Igreja Reformada do Brasil em São Paulo.

Devocionais

ENSINA-NOS A CONTAR OS NOSSOS DIAS

“Ensine-nos a contar os nossos dias para que tenhamos um coração sábio”.

(Salmo 90.12)

A vida é frágil e curta. À medida que Moisés se aproximava do fim de seus dias nesta terra, ele reflete sobre este ditado:

“Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens. Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca”.

(Salmo 90:3–6)

Ao refletir sobre as gerações passadas, Moisés viu algo mais; a humanidade é pecadora e sofre as consequências do pecado.

“Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados. Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos. Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento. Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos. Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido”?

(Salmo 90.7-11)

À luz das realidades gêmeas da brevidade e pecaminosidade da vida humana, Moisés faz esta simples oração:

“Ensine-nos a contar os nossos dias para que tenhamos um coração sábio”.

(Salmo 90.12)

Cada túmulo que você vê contém os restos mortais de uma pessoa sábia ou de um tolo. Aqueles que contavam seus dias eram sábios. Aqueles que não o fizeram eram tolos. Há três razões pelas quais devemos aprender a contar nossos dias. A primeira é:

NOSSOS DIAS SÃO CURTOS

A maioria das pessoas percebe que vai morrer um dia, mas vive suas vidas como se esse dia estivesse longe, mas o dia da nossa morte não está longe.

Da perspectiva de Deus, nossas vidas são como a grama e as flores que brotam de manhã e à noite estão murchas e murchas.


Esse fenômeno era bastante familiar para Moisés e seus leitores originais. Nas regiões desérticas e semidesérticas deste mundo a chuva é tão assustadora que as plantas literalmente têm apenas algumas horas para florescer e se reproduzir. Mesmo em uma região muito chuvosa como a nossa, a floração da primavera dura muito pouco. Olhe para as flores murchando – é assim que sua vida é curta!


Claro, é preciso uma perspectiva eterna para ver isso e é por isso que Moisés pede a Deus que o ensine a contar seus dias. Somente com a ajuda de Deus podemos entender adequadamente quão fugazes são nossos dias aqui nesta vida. Sem essa perspectiva eterna, erraremos nas prioridades da vida. Jesus contou uma parábola que ilustra isso.

“E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstrui-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então, direi à minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.”.

(Lucas 12:16–21)

A maioria das pessoas estão vivendo suas vidas como este homem. Muitos que estão fora da igreja, reconhecem que deveriam estar adorando a Deus com o povo de Deus, mas, segundo eles, estão ocupados demais para a adoração corporativa.


O que é mais importante do que Deus? No que eles estão investindo o pouco tempo que têm nesta vida? Sono extra? Jogos de futebol? Redes Sociais? Prazeres desta vida? A triste realidade é esta, no final de suas vidas, seus celeiros terrenos estarão cheios, mas seu tesouro no céu estará vazio!


Não desperdice sua vida! Peça a Deus que o ensine a contar os seus dias, para que você alcance um coração sábio. A segunda razão pela qual precisamos orar esta oração é:


NOSSOS DIAS SÃO CHEIOS DE PECADOS E MISÉRIAS


No versículo onze, Moisés faz uma pergunta muito penetrante.

Quem considera o poder da tua ira e o teu furor segundo o medo de ti?

(Salmo 90:11)

Poucas pessoas nos dias de Moisés estavam considerando a ira de Deus contra o pecado, o problema é ainda pior hoje. Pouquíssimos pregadores hoje ousariam pregar sobre a ira de Deus sobre o pecador (e o pecado) e o julgamento de Deus. É por isso que o evangelho bíblico raramente é pregado. O evangelho bíblico oferece uma solução para um problema que as pessoas não pensam que têm. Consequentemente, a Boa Nova de Cristo morrendo por pecadores foi transformada na mensagem de saúde, riqueza, prosperidade e ego (que se tornou virtude para muitos “cristãos”).


É por isso que as pessoas não acham a pregação bíblica prática. Eles querem sermões de problemas “reais”, como autoajuda, hedonismo, egocentrismo, viver feliz, criação de filhos, aconselhamento financeiro e matrimonial. A Bíblia fala sobre essas questões, mas sempre de uma forma que se relaciona com a Grande Mensagem da Bíblia: Cristo como o Salvador de pecadores arrependidos.


É por isso que precisamos da ajuda de Deus para contar nossos dias.


Quando examinamos honestamente nossas vidas à luz da Palavra de Deus, vemos o que Isaías viu.

“Porque as nossas transgressões se multiplicam perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniquidades. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam”.

(Isaias 59.12; 64.6)

Além de tudo isso, vemos as terríveis consequências do pecado ao nosso redor; o mais óbvio deles é o ódio da humanidade contra o evangelho, o próximo e a morte física. Quão verdadeiras são as palavras que encontramos em Romanos 5.12:

“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.

(Romanos 5.12)

A brevidade de nossas vidas e a feiura do pecado destinam-se a nos ensinar que precisamos do perdão que Jesus oferece. Temos uma breve janela de oportunidade para nos arrependermos de nossos pecados e buscarmos o perdão de Deus.


Após a morte, não haverá segunda chance, apenas julgamento (Hb 9.27). É por isso que o Catecismo de Heidelberg enfatiza que a primeira coisa que todo ser humano precisa saber para sua salvação é “quão grande é o nosso pecado e miséria”. (Perguntas e Respostas 2)


Deus não nos abandonou nem esqueceu; a prova disso é que você está vivo e que está lendo este texto! Em 2 Pedro 3:9, somos ensinados que o Senhor “é paciente para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos cheguem ao arrependimento”.


Isso nos leva à seção final deste salmo.


A terceira e última razão pela qual devemos contar nossos dias é porque…

NOSSOS DIAS PODEM SER REDIMIDOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS


Vamos ouvir Moisés enquanto ele continua a orar.

“Volta-te, Senhor! Até quando? Tem compaixão dos teus servos. Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias. Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade. Aos teus servos apareçam as tuas obras, e a seus filhos, a tua glória. Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus; confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos”.

(Salmo 90.13-17)

Somente a misericórdia de Deus pode redimir nossas vidas pecaminosas.


Somente estando unidos a Cristo pela fé, podemos ter alguma esperança de que nossa curta vida nesta terra possa ser redimida e ter algum valor duradouro.

Uma vida vivida à parte do poder redentor de Deus é uma vida desperdiçada.


Nós “contamos nossos dias” lembrando:

  • Nossos dias são curtos
  • Nossos dias são cheios de pecado e miséria

Ainda mais importante:

  • Nossos dias podem ser redimidos pela misericórdia de Deus encontrada em Jesus Cristo!

Autor Anônimo

Academia

SOBERANIA DIVINA: Coisas essenciais e não essenciais.

A vida eterna (Rm 6.23 – ARA) e a morte eterna (Ap 21.8), são verdades absolutas. Ambas, estão ao abrigo da soberania divina (Dt 32.39; I Sm 2.6). Chamo aqui de “O ESSENCIAL” a salvação (vida eterna), e de “COISAS NÃO ESSENCIAIS”, todo o resto que se sucede na vida humana.

Deus, soberanamente, decidiu conceder graça à humanidade. Essa graça é uma só, porém, manifesta-se de duas maneiras:

  1. Especial (salvadora);
  2. Comum (geral);

É por usar Sua graça, e suas eternas misericórdias, que o Senhor decidiu não exterminar a humanidade (Lm 3.22-23).

O ESSENCIAL

O ser humano é escravo do pecado (Jo 8.34). Mas Deus, por Sua imensa Graça (Ef 2.8), concede a fé salvadora (Fp 1.29; Ef 2.8) a muitos (Rm 5.15), levando-os a Cristo (Jo 6.44). Esses, que sempre foram de Deus (Jo 17.6 NVT), foram escolhidos por Ele (Rm 8.29 – NTLH), antes da fundação do mundo (Ef.1:4), predestinados e declarados justos (Rm 8.30 – NVT) para repartir a sua glória com eles. Soberanamente, Deus os salvou pelos méritos de Jesus Cristo em Seu sacrifício substitutivo (II Co 5.21).

Esses, são os alcançados pela graça especial (salvadora). Deus não crê por eles, mas lhes concede a capacidade de crer como um presente (dom), de maneira que não haja resistência obstinada e definitiva, uma vez que Ele é o criador e o sustentador dessa fé (Heb.12:2).

COISAS NÃO ESSENCIAIS

Quanto a essas “coisas não essenciais”, aos salvos e aos “de fora” (perdidos), essas coisas acontecem sob a égide da graça comum (Rm 3.23-24). Todos desfrutam das inúmeras bênçãos de Deus (Sl 145.9, 15,16). Por essa medida de graça, Deus confere a todos indistintamente, todas aquelas bênçãos que não fazem parte da salvação:

  • O ar que respiramos;
  • O sol e a chuva (Mt 5.44-45);
  • A colheita, a fartura e a alegria (Sl 145; At 14.16-17);
  • Na esfera intelectual;
  • A esfera moral;
  • A criatividade (artes/ciências);
  • A organização da sociedade;
  • Ouve as orações (Sl 145.9-15; Mt 7.22); Lc 6.35-36);
  • Acode os homens (I Tm 4.10);

Deus em Sua soberania, administra essa graça (comum) da maneira que Lhe apraz (Sl 15.3; Is 46.10; Ef.1.11). O controle é dele (I Crônicas 29.11-12), e essa soberania coexiste misteriosamente com a livre agência.

Aos declarados justos e aos ímpios, não foi revelada a maneira como Deus gerencia essa graça (Ec 9.1-2), de maneira que a sabedoria, a inteligência, a prudência, a esperteza, a valentia ou as riquezas humanas, não garantem os resultados positivos dessa medida de graça a ninguém (Ec 9.11), porque tudo sucede igualmente a todos, segundo a boa e perfeita e agradável vontade divina (Rm 12.2). Deus, soberanamente, controla a tudo ativa e passivamente (Ezequiel 17.24; Sl 139.16; Lc 12.7).

CONCLUSÃO

Os alcançados pela Graça salvadora, são livres em Cristo Jesus (Jo 8.36). Porém, continuam pecadores (I Jo 1.8). Como tais, precisam da ação poderosa do Espírito Santo que neles habita (Rm 8.9; I Co 3.16; I Co 6.19), para que controlem as circunstâncias que cercam sua passagem por esta vida (conduta, poder, riquezas, cuidados pessoais etc.), lembrando que Deus, como um pai amoroso, aplicará as correções (disciplina), de maneira que Ele mesmo se encarrega de derrubar em nós a ilusão da soberana humana. (Hb 12.6)

De outro lado, os “de fora”, mesmo objetos da graça comum, não têm a seu lado o “Consolador” Jo 14.16; Jo 15.26; Jo 16.7), o “Conselheiro” (Jo 14.26 – NVI), o “Ajudador” (João 14.26 – NTLH), o “Guia” (Jo 16.13), intercedendo por eles (Rm 8.26), e os conduzindo a toda a verdade (Jo 16.13), trazendo constantemente à sua lembrança instruções sobre todas as coisas (Jo 14.26).

Vemos assim que Deus está no controle de todas as coisas, agindo soberanamente.

ARTIGO DE:

Presbítero Ivo Matias Damas
Professor de Filosofia da Religião no “Centro de Formação Teológica – CEFORTE”. Guarulhos/SP.